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Crônicas
05/07/2006 - 08h25
O encontro entre Genésio e Aristóteles
José Ronaldo dos Santos
 

Eis a minha contribuição para um tempo propício à reflexão sobre a cultura caiçara.

“Tanto a prática excessiva de exercício quanto a deficiência destroem o vigor; e, da mesma maneira destroem a saúde o alimento ou a bebida que ultrapassem certos limites, tanto para mais como para menos, enquanto seu uso nas devidas proporções, produzem, aumentam e preservam a saúde e o vigor”

Esta citação foi escrita há quase dois mil e quatrocentos anos por Aristóteles, um filósofo grego. Foi a partir de sua leitura que me lembrei de uma conversa, em 2005, com o senhor Genésio, 79 anos, da praia do Camburi, em Ubatuba. Ele é um importante líder daquela comunidade. Isto ele falou: “Antigamente, bem antes da criação do Parque Estadual da Serra do Mar, do Núcleo Picinguaba, e, da construção da rodovia (BR-101 - Trecho Rio-Santos), os moradores daqui criavam porcos, galinhas, patos; plantavam mandioca, inhame, milho, feijão, abóbora, abacaxi, café, cará, banana e outras coisas mais. Andavam muito, principalmente quando tinha a precisão de ir à cidade, onde chegavam após andar, subindo e descendo morros, passar praias e jundus, por perto de doze horas. Naquele tempo se vivia bastante”. A partir deste ponto ele enumerou uns dez moradores antigos que alcançaram o último quarto do século passado e viveram entre 90 e 105 anos.

Conclusão: Aquilo que Aristóteles registrou em sua obra Ética a Nicômaco era a prática dos caiçaras do Camburi, o povo do Genésio. Porém, este não escreveu nada; não teve acesso à cultura formal, erudita. O que nos permite conhecer sobre o seu povo é o contato com a cultura popular, através da tradição oral e dos traços culturais que ainda não foram reprimidos pelo processo de globalização. Então, o desafio é registrar aquilo que sobrevive graças à oralidade. Assim os dois se encontraram na minha imaginação, a partir da sede da associação, bem no meio do campinho, às margens do rio Camburi: um como representante dos remanescentes de quilombolas e outro ensaísta dos primeiros passos de cidadania na distante sociedade ateniense. Um negro, originário da estrutura mítica africana – aquela da árvore do esquecimento que antecedia os embarques nos navios tumbeiros -, outro branco, representante da talassocracia grega, fruto da racionalidade que contagiou o mundo ocidental. Quem diria!!!

Foi bonito ver como eles se olhavam nos olhos. Os dois tinham uma dignidade invejável. Bem que eu gostaria de ver o senhor Genésio jogar capoeira com aquele pensador esperto. Acho que o negrão também não teria dificuldade em aprender a dança grega.

Ah! Ia me esquecendo! Os dois disseram a mesma coisa: Para ter longa vida é preciso uma boa alimentação e fazer exercícios físicos regularmente. Será que a juventude está disposta a aprender com os idosos? Vale alguma coisa a sabedoria de um velho livro, de um homem analfabeto?

Só posso dar algumas recomendações: 1- Visite as comunidades tradicionais; 2- Escute as histórias de vidas tão singulares; 3- Registre as tradições orais; 4- Valorize as manifestações culturais das diferentes culturas; 5- Estude para fazer valer o conceito de cidadania e de diversidade étnica; 6- Respeite o meio ambiente; 7- Ame a vida.

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