Qual? Nosso Congresso ou nosso governo? Duvido de que haja, entre os países democráticos, parlamento pior do que o brasileiro. Mas isso não significa que o governo seja melhor. O número de escândalos debitados na conta deste último já lhe reserva página inteira no Guiness Book. No entanto, pense bem antes de embarcar na onda que pretende confundir os maus congressistas com a instituição parlamentar. Até esse Congresso, com mensaleiros e sanguessugas, é melhor do que nenhum Congresso, e serviu para conter os arroubos totalitários ensaiados pelo governo Lula. É bom lembrar. Quando morreu Celso Daniel, durante a campanha de 2002, o alto comando petista desabou lacrimoso sobre Santo André, lançando suspeitas contra os adversários do PT e exigindo rigorosas investigações. De repente, surgiu a figura do Sombra, e o mesmo comando tratou de encerrar rapidamente o processo. O Ministério Público paulista, inconformado com o inquérito, deu seqüência às investigações que acabaram por trazer à tona um esquema de corrupção que beneficiava diretamente a Executiva Nacional do partido já então no governo. Nesse exato momento surgiu a idéia de criar uma lei que amordaçasse promotores, juízes, autoridades policiais e administrativas. Foi o projeto da Lei da Mordaça, um cadáver insepulto que pode reviver a qualquer momento. O Conselho Nacional de Jornalismo foi outro ensaio. Como escreveu o jornalista José Nêumanne à época, aquela era uma idéia capaz de matar de inveja Stalin, Hitler e Mussolini. Em vez de apelar para a censura, o projeto criava um conselho encarregado de cassar o registro dos adversários. Na mesma linha se incluía a idéia de criar a Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), para assumir "o planejamento, a regulação, a administração e a fiscalização" do setor. A Lei do Desarmamento, produto do mesmo metabolismo, felizmente foi desfigurada, em parte, pela proposta congressual do referendum. Cuidado, portanto, com quem sugere acabar com o Poder Legislativo. Voltando à questão central. Decidir qual dos dois poderes é o pior envolve, obviamente, uma opção política. Atente, porém, para a diferença de conduta. Mesmo quem considera que o governo é pior do que o Congresso, não exime este último de suas muitas e graves responsabilidades. Em contrapartida, há quem isente o governo de tudo. E mais: o topo da pirâmide oficial está ocupado por quem se apresenta como despido de quaisquer culpas ou pecados. Em 8 de abril de 2005, durante o velório de João Paulo II, Lula se declarou sem pecados. Quarenta e cinco dias depois, Luiz Marinho foi filmado recebendo a famosa propina e batendo com a língua nos dentes. Um mês mais tarde, Roberto Jefferson jogou tudo no ventilador. E o presidente, exatamente um ano depois, continua sem culpa, sem pecado e sem saber de coisa alguma. A meu juízo, reside exatamente nesse déficit de consciência o critério decisivo para quem quiser responder bem a pergunta que dá título a este artigo. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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