13/09/2025  07h00
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
08/07/2006 - 09h40
O crime compensa sim senhor
Dartagnan da Silva Zanela
 

O crime compensa? Bem, a moral judaico-cristã e mesmo o bom-senso dizem que não, mas, infelizmente, o que rege a ordem pública e a mente de nossas classes falantes afirma o contrário. Não de maneira direta como versa o título deste libelo, mas sim, do modo mais cretino possível que é nas ditas e malditas entre linhas das falas e escritos dos segundos e das atitudes presentes na primeira.

Como dizer que o crime não compensa para um jovem sendo que ele diariamente vê com os seus próprios olhos "otoridades" públicas sendo acusadas, com suas práticas ilícitas evidenciadas, publicamente, de estarem cometendo delitos contra o patrimônio público e, na maioria dos casos, saindo ilesas e até mesmo com inúmeras regalias para dar inveja a qualquer cidadão honesto desta pátria (até mesmo nos desonestos confessos). Casos estes como os dos senhores, Valério da vida, Waldomiro Dinis, José Dirceu, et caterva, onde o crime compensa, e muito, sim senhor, com direito a ter filósofos como a senhora Marilena Chauí e o senhor Emir Sader que os defendem como vítimas de um suposto plano conspiratório da destra.

Alais, não fiquemos com apenas estes cretinos. Procuremos reavivar a nossa memória. Vocês se lembram o que aconteceu com o senhor Jader Barbalho? Não? Foi reeleito como Deputado pela sociedade depois de todas as suspeitas levantadas contra a sua pessoa. Bacana isso em? Obviamente que este, como todos os outros que estão a vilipendiar a sociedade não se apresentam como tal, da mesma forma que nenhum golpistas se apresenta como um larápio ordinário, mas sim, como uma pessoa que poderá transformar a sua vida para melhor até que este (nós, no caso) caia no conto do falso vigário.

E, emblemático se faz o caso de Fernandinho Beira Mar que, quando convocado pelos Parlamentares para depor em uma CPI, afirmou que ele apenas tinha uma carreira e que havia se dado bem nela como qualquer pessoa, como qualquer um dos parlamentares que ali estavam presentes. Num primeiro momento, tal fala soa apenas de modo agressivo e nada mais. Todavia, se formos atinar para o clima em que se vive nesta nação, temos apenas que concordar com o referido meliante, visto que, nós, estando cientes da pouca confiabilidade de nossos representantes, continuamos a confiar em suas personas. Já parou pra pensar se um empresário utiliza-se para contratar seus executivos os mesmos critérios que nós utilizamos para eleger os nossos representantes junto ao poder Executivo e Legislativo?

Ora, o que leva uma atividade econômica ser praticada por alguém é o fato de ela ser bastante rentável e inferir sobre o agente um baixo índice de risco. Deste modo, infelizmente, o crime, cada vez mais organizado, se apresenta como uma atividade extremamente rentável, pois, mesmo este indivíduo estando preso, continua de modo direto ou indireto com seus negócios ilícitos sendo zelados. E não é assim? E, do mesmo modo que os nossos parlamentares dizem ser aqueles que representam os interesses do povo tem gente que pinta o crime organizado como uma espécie de bando pós-moderno de "defensores dos pobres e oprimidos" que toma dos ricos para dar aos pobres para assim suprir a ausência da presença dos serviços do Estado, ou seja, pelo fato de o Estado ser uma inutilidade legalmente constituída devemos ver alguma utilidade na atividade ilegal do tráfico de drogas. É isso?

Bem, é isso que muito sociólogo de meia pataca afirma em suas teorias. Que é literalmente o caso dos ditos falantes que se dispõe a explicar as causas da criminalidade em nossa sociedade fazendo uso dos mais refinados cabedais conceituais das ciências sociais para tal empreitada. Tais estudos sobre a criminalidade acabaram por criar um amplo cacoete mental bem decoradinho onde se afirma que a causa fundamental da criminalidade seria social.

Bem, para que tal afirmação possa realmente ter o amparo de cientificidade, esta deve seguir, penso eu, alguns critérios científicos. Basta que, façamos uma abstração mental de um determinado fator presente no corpo societal. Feito isso, partamos para constatar se sem ele, o referido fator, seria indispensável para os acontecimentos e se este seria possível de ocorrer em sua ausência.

Bem, então suponhamos, do mesmo modo que nossos sociólogos politicamente corretos, que a miséria e a desigualdade são a causa prima de todas as formas de criminalidade. Ora bolas, tal causa está muito distante da realidade dos fatos visto que, nem todo grupo social pobre, economicamente, se encontra entregue ao crime. Exemplo disso se encontra nos casos de sociedades como a indiana: extremamente pobre e com um dos índices mais baixos de violência do mundo. Podemos também, recorrer a um exemplo bem próximo de nossa realidade que são os dos próprios moradores dos morros cariocas que, em sua grandessíssima maioria, são pessoas trabalhadoras que se encontram atormentadas pela presença da criminalidade organizada à porta de seus lares. Ao mesmo tempo, a criminalidade vem crescendo a passos largos em meio a jovens de classe média que, via de regra, tem muito mais oportunidades de "subir na vida" do que muitos jovens que se encontram a margem da sociedade.

Bem, com toda certeza os fatores sócio-econômicos são um dos fatores que podem mover um indivíduo a vida bandida, entretanto, a um grande gral de probabilidade de que ele não seja uma das determinantes. Todavia, se dermos início a uma boa prosa em um boteco ou em uma ilustre discussão acadêmica, com toda certeza esse topus irá aparecer como sendo uma verdade incontestável apesar de não ter sido averiguada nos caminhos epistemológicos de maneira satisfatória.

Se isso não bastasse temos um agravante que eu, enquanto um cidadão que gosta de dar um "zóio" onde não é chamado, que no caso seria a forma como a criminalidade é abordada em sua punição. Não são poucos os que defendem abrandamento das penas, penas alternativas e toda uma ampla revisão "humanística" na forma como se deveriam punir os delinqüentes. Bem, é aí justamente o que mais me deixa macedônia da vida e a razão é simples: discute-se entre os doutos no assunto a condição em que os detentos vivem nos seus cárceres, a eficiência de seu reingresso a vida social enquanto um indivíduo reajustado as normas estabelecidas pela sociedade, mas, me indago, em que momento desta humana discussão entra a preocupação com a figura da vítima que no caso seria a de qualquer cidadão de bem?

Vamos abrandar a pena de uma pessoa que estuprou uma moça? Vamos abrandar a pena de uma pessoa que matou uma outra a sangue frio? Vamos discutir a legitimidade da condenação de uma pessoa sob o efeito de narcóticos que matou acidentalmente uma criança ou uma pessoa adulta em um acidente de trânsito? Vamos sim, mas sem esquecer da figura da vítima e refletirmos sobre o que ela espera enquanto exercício da justiça.

Todos os casos hipotéticos mencionados acima são assim mencionados com base em processos existentes e que demonstram uma profunda abstração dada as preocupações e anseios da sociedade, restringindo como pólo da contenda apenas a formalidade da lei e a situação humana dos delinqüentes e ponto final.

Senhores doutos na seara do estudo deste fenômeno, lembrem, quando forem meditar sobre o tema que, quando há um ladrão, há alguém que foi lesado no fruto de seu trabalho honesto, que quando há um assassino há familiares de uma pessoa que não mais está entre eles devido a atitude de uma pessoa, que quando há um estuprador há uma mulher (ou menina) estuprada e que, pode ter certeza, não deseja tão cedo ver nas ruas aquele que a agrediu.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.