Engana-se quem acredita que as políticas de Evo Morales prejudicam o Brasil. Ao contrário. E é fácil explicar o porquê. Na medida em que o país vizinho implementa a agenda socialista, aprofunda-se a crise econômica. Os bolivianos ficam com perspectivas cada vez piores, e deixam o país. O Brasil tem sido o seu destino natural, até porque a maior extensão da fronteira entre os dois países é seca. Eles não têm necessidade de se lançar ao mar, em embarcações improvisadas, como fazem os cubanos. Basta cruzar a pé a linha imaginária que delimita os territórios. Enquanto o governo brasileiro não enveredar completamente pelo mesmo caminho, cada vez mais bolivianos se mudarão para o Brasil. E isso é muito bom, pois imigrantes são, em geral, jovens com muita disposição para progredir na vida. Estudam e trabalham duro. Representam um valioso capital humano que a Bolívia está nos mandando absolutamente de graça! Como se isso fosse pouco, brevemente a Bolívia expulsará brasileiros que dão enorme dinamismo à agricultura, tudo em nome da reforma agrária. Voltarão para o Brasil empresários rurais altamente qualificados. Mas os benefícios das políticas bolivianas para o Brasil não se esgotam com a remessa de mão-de-obra. Na medida em que o socialismo empobrece a Bolívia (como, aliás, sempre fez em todos os países onde é implantado), reduz o consumo interno, inclusive dos seus próprios minérios. Assim, sobrarão no futuro gás, petróleo e outras matérias primas para o Brasil comprar mais barato. A política externa brasileira de dar apoio aos desatinos de Evo Morales é de um maquiavelismo surpreendente. Sabedor de que a ruína da Bolívia trará benefícios de curto e longo prazo para o Brasil, o Itamaraty finge que está irmanado ao povo boliviano. E ainda "dá corda" no discípulo de Hugo Chávez, para ver se ele destrói seu país mais rapidamente. Por isso, só nos resta agradecer à Bolívia e cumprimentar a diplomacia brasileira pela habilidade com que consegue dissimular a sua verdadeira agenda. Nota do Editor: Cândido Prunes é contribuinte do imposto de renda, bibliófilo, ensaísta, advogado no Rio Grande do Sul e em São Paulo, pertence ao Conselho Editorial da Revista "Banco de Idéias" e é membro da Sociedade Mont Pélerin.
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