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Crônicas
09/07/2006 - 15h21
Se a vergonha na cara existisse
Rosana Hermann
 

A coletiva de imprensa seria num lugar acessível, bonito, com manobristas, um bom café da manhã, com canetas e bloquinhos para todos, em abundância, para que os excedentes fossem levados para casa.

No horário marcado, o técnico Parreira e todos os jogadores da seleção, entrariam na sala, sentariam em seus lugares, de cabeça baixa e uma tristeza de doer a alma, refletida em todos os pares de olhos úmidos.

Com a humildade que tanto apreciamos nos nossos ídolos e a generosidade da qual não somos capazes mas esperamos dos outros, a coletiva começaria, com transmissão ao vivo para a Internet, tv e rádio. Todos os brasileiros teriam direito de questionar, duvidar, cobrar e expressar a indignação que sentimos diante da derrota vergonhosa do Brasil para a França. Parreira admitiria que é teimoso, cabeça dura, confirmaria que não sabia o que fazer com Robinho e pediria perdão por todos os seus erros. Ronaldo se pesaria na frente de todos os presentes e diria que amarelou e contaria em detalhes o que aconteceu no final da copa de 98.

Kaká pediria perdão por ser bonito e Ronaldinho Gaúcho por ser feio e ambos diriam que não deram o melhor de si, embora tenham tentado com todo ardor. Cafu falaria da dificuldade de jogar bola em sua idade e pediria opiniões a todos sobre o futuro de sua carreira. Roberto Carlos choraria de joelhos pedindo clemência e perdão sincero por não ter marcado Zidane no jogo da desclassificação.

E assim, um por um, todos os nossos heróis esportivos se renderiam às evidências que todos nós já percebemos, admitindo o óbvio e pedindo clemência a seus verdadeiros patrões, nós, a torcida brasileira.

Terminada a catarse, a organização daria um coffee break com direito a perguntas individuais numa sala ao lado, onde todos posariam para fotos e sessões de autógrafos.

Iríamos todos para uma área de lazer, com piscina, massagens, comes e bebes e, depois de um bom filme, voltaríamos para a sala de conferência. Desta vez, o tema seria política. E todos os envolvidos nas CPIs confessariam seus ilícitos e pediriam punição. A maioria abandonaria a vida pública ali mesmo.

Quando a noite chegasse e nossas almas já estivessem lavadas e apaziguadas, um grande show com Ivete Sangalo, Lulu Santos e outras estrelas pop encerraria o evento. Um pronunciamento simbólico selaria um pacto de sinceridade a ser implantado a partir daquela data, com o fim definitivo da corrupção na política e pela volta do amor à camisa em detrimento de interesses de patrocinados. Claro, a cobertura da copa do mundo também deixaria de ser um direito exclusivo e privado para se transformar em patrimônio nacional, um direito aberto e de todos.

Seria mesmo maravilhoso. Seria um sonho. Seria genial.

Duro é encontrar quem organize e financie o evento, quem pague os bloquinhos e o hotel, quem supervisione o pacto e apague a luz, no final. Duro é conviver com a triste realidade da extinção da vergonha na cara na vida nacional.


Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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