Depois de peregrinar por três lugares, lá estavam sentados em local até agradável, mas atravancado de gente. Muito barulho, tal como os outros, dos quais haviam desistido. A fome reclamava, e se tinha a sensação de que, apesar das três paradas distintas para uma simples refeição, eram um núcleo, mas cada um tinha sua história, suas perspectivas, seu tempo passado, planos de presente e de futuro. Muitos do mesmo sangue, mesma cepa, e os que se achegaram e ficaram. Uns e outros conceberam outros e agora era como se fosse um núcleo só, um bloco, mas poderia não ser. Foram feitos os pratos, cada um do seu jeito e escolha própria, e, mesmo nas semelhanças, havia distinções. É isto, até no trivial ato de comer, o que forma a singularidade de cada um, jeito, modo de ver, reagir, interagir, sentir e deglutir. Ali, naquele lugar, as histórias múltiplas do passado e presente, alegres, dolorosas, passageiras ou permanentes, estavam sendo mastigadas, mais até que a própria comida, esta que deixa apenas uma energia fugaz precisando ser constantemente renovada, como se cada dia a descarregasse. E por conta de tanto barulho, das diferenças de sexo, idade, de pensar e até do ambiente, não houve o essencial, a conversa que se fazia necessária, intimidade, troca de sentimentos, busca de entendimentos, cristalização da esperança, certeza das imperfeições, carências de que todos estão plenos e as faltas de olhares dentro dos outros olhares. A união que não resulta da comida e da bebida, mas do pleno desejo individual que se mistura, cede, adere e se torna coletivo pelo consenso. Ao final, como eram muitos, dividiram-se e parece que não ficou claro o que se pretendia replantar, renovar. Alegoricamente, alguém poderia estar com plantas e árvores às mancheias que plantara ao longo dos tempos, as recolhera e tentava distribuí-las para replante nos mesmos ou outros lugares, com novos adubos ou transplantá-las, desde que não perdessem o viço, a seiva e gerassem novos frutos e flores, embora sabendo dos espinhos que costumam doer, mas sem eles não se sente o aroma das flores e dos frutos. E ficou ali ruminando e, como os demais jardineiros, talvez tenha errado algum plantio, mas o que colhera afinal era suficiente para muitos e isso o intrigava, pois tudo continuava em suas mãos calosas.
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