A verdade é que eu estou com o Zidane e não abro. Tem hora que a gente tem mesmo que apelar pra cabeçada. É por causa dessas coisas que a França tem lá aquela História com agá maiúsculo. Por exemplo, teve uma hora lá na França que ninguém agüentava mais esse negócio de rei e rainha. No século XVIII, os franceses estavam vivendo numa pindaíba dos infernos, e ainda tinham que engolir aqueles nobres todos fazendo pose com suas perucas encaracoladas. O povo bem que tentou convencer os caras, fizeram umas reuniões, e nada. E aí o que os franceses fizeram? Partiram pra cabeçada. Aos gritos de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", tomaram a Bastilha, expulsaram os nobres e guilhotinaram a família real (olha as cabeças aí de novo). Depois disso ainda teve o "Maio de 68", em Paris. Maio de 68, pra quem não sabe, foi o movimento estudantil mais importante da história. Em protesto contra um reitor que teimava em proibir visitas masculinas aos dormitórios femininos, mesmo depois de vários pedidos bastante educados feitos pelos alunos, os estudantes tomaram as ruas e declararam a anarquia em Paris, fazendo até o presidente De Gaulle fugir apavorado. Foi durante esses protestos que alguém pichou num dos muros da cidade a frase que ficou célebre: "É Proibido Proibir!". "Maio de 68" mudou a cara do mundo, abrindo caminho para o surgimento do movimento hippie, dos Beatles, do rock e o que mais veio depois disso. E tudo porque um chato de um reitor proibiu um francês de visitar a namorada. Agora, me fala aí qualquer coisa parecida feita por brasileiros. Não tem. Eu acho, inclusive, que o Brasil é o único país do mundo que conquistou sua independência sem uma briguinha sequer. A gente teve que esperar o próprio imperador de Portugal declarar a nossa independência, se não a gente não fazia é nada. Somos uns molóides. Aliás, o que a nossa seleção mostrou nessa Copa foi um retrato do brasileiro. É como disse a Fernanda Lima (é, aquela modelo) na revista Veja: "O Brasil em campo não foi nada além de nós, brasileiros: dispersos, preguiçosos, passivos, sem atitude diante da vergonha de aceitar as coisas como são ou como estão.". O que o brasileiro precisa é começar a apelar para a cabeçada de vez em quando. Esse negócio de ser bonzinho, alegre e cordial já encheu.
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