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SEÇÃO
Crônicas
21/07/2006 - 16h14
Correspondente de guerra
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

É engraçado como a gente se acostuma com tudo. Uma das coisas que mais surpreende esses correspondentes de guerra dos jornais e TVs é que, naquelas cidades todas destruídas do Oriente Médio ou da África, no meio dos escombros e do barulho das bombas, eles sempre encontram umas crianças jogando bola, uns velhinhos batendo papo junto de uma padaria, uma mãe secando roupas num varal, essas coisas que todo mundo faz, em qualquer lugar do mundo. Embora o varal esteja pendurado entre paredes desabadas, e o gol das crianças seja marcado por dois tijolos soltos em alguma explosão, a impressão que dá é que está tudo nos seus conformes, que não está acontecendo nada de mais.

Eu me senti um pouco assim agora, nesse final de semana, quando a minha mulher precisou viajar para São Paulo e a minha filha para São José do Rio Preto, deixando-me em casa na companhia apenas dos meus fantasmas. E os meus fantasmas têm a mania de assumir as caras mais estranhas do mundo, como, por exemplo, a cara do Jornal Nacional. Eu não sou muito de assistir televisão, mas quando a gente está sozinho em casa, acaba apelando para qualquer coisa. E quando deu mais ou menos oito na noite, liguei a televisão, e aquele cara do Jornal Nacional desandou a dar notícias sobre os ataques do PCC. Eles até que foram bastante didáticos, mostrando um mapinha com as cidades do Estado de São Paulo que sofreram ataques durante o dia. Estavam lá São Paulo, São José do Rio Preto, Campinas e mais umas outras que eu não me lembro direito.

Imediatamente, o telefone tocou. Era minha filha, ligando de Rio Preto, avisando que estava tudo bem com ela, pra eu não me preocupar. Cinco minutos depois, era minha mulher, de São Paulo, dizendo que estava tudo correndo conforme o planejado. E, logo depois, meus pais ligaram de Campinas, falando que a coisa não estava tão feia como parecia.

Acabados os telefonemas, eu desliguei a TV e me deitei no sofá da sala, olhando para o teto. Quando não tem ninguém em casa, o silêncio faz a gente ouvir barulhos estranhos. A casa inteira parece ranger, já percebeu? Os móveis estalam. Os canos de água sibilam. Ouvi umas crianças gritando na rua e levantei-me para ver o que era. Estavam jogando vôlei, parece. Ou bola-queimada. E as mães estavam sentadas em cadeiras na calçada, aproveitando para colocar as fofocas em dia.

Tudo nos conformes.

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