A Copa veio como pretexto para reuni-los. A família mal se cruzava em casa. Os horários nunca batiam. Mas jogo da Seleção Brasileira, em Copa do Mundo, é sempre feriado nacional... Todos na sala para a estréia da Seleção. O pai arrisca comentários óbvios para se aproximar do filho. Mãe e filha só se manifestam quando há perigo de gol. “Uh!” e “Ih!” são expressões que qualquer pessoa é capaz de usar diante um jogo, sem causar maior transtorno. Ou não... Segundo tempo. A menina, num susto diante um ataque da seleção adversária, disparou um “Ih!” seguido de movimentos exagerados com os pés que derrubaram metade da tubaína no tapete. Isso foi o estopim... A filha saiu correndo em direção das escadas. O pai levantou, pediu calma e não percebeu que parou na frente da televisão, tampando a visão do filho. O garoto sofria de transtorno bipolar, levantou entorpecido de raiva, pegou a garrafa e atirou na parede. Um caco acertou o pescoço do pai. A mãe desesperada com a cena, teve um ataque cardíaco. A irmã escorregou na escada melada de tubaína e rolou até bater a cabeça na quina da porta. Todos mortos. Exceto o garoto que, sentou no sofá, olhou bem para o controle remoto e chegou a suspirar: - Enfim, sós! O Brasil logo em seguida fez um gol. O jovem extravasou, com gritos histéricos, suas confusas emoções. Logo depois, percebeu-se uma súbita lágrima escorrendo em seu rosto, ganhando velocidade, varando o ar macabro que assolava a sala e caindo, como uma marretada, no “power” do controle remoto. A tevê desligada e ele ficaram em stand-by até a chegada de alguém... Nota do Editor: Álvaro Rodrigues é estudante do 6º semestre de Jornalismo na Uni Sant’Anna/SP (SP).
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