Um certo leitor, esquerdista convicto que se diz não petista, tem-me mandado repetidos e-mails de reprovação ao que escrevo. Indignou-se especialmente com os artigos que escrevi analisando os fatos envolvendo o PCC. E, como “prova” de suas certezas, tem-me mandado repetidos informes sobre o suposto bem-estar que Lula e seu partidos trouxeram ao Brasil, desde sua posse na Presidência da República. Algumas dessas notas quero aqui comentar para demonstrar como essas pessoas se enganam. Meu desafortunado missivista é um exemplar digno de observação porque, na sua confusão mental, espelha a confusão mental que se instalou em nosso país. As pessoas não conseguem mais separar fatos de versões, realidade de fantasia, propaganda enganosa daquilo que é a realidade do dia-a-dia. Esses são os eleitores cativos de Lula Lá. Vejamos a primeira nota: “A desigualdade social atingiu o menor nível desde o Censo realizado em 1960. Essa é uma das conclusões destacadas de uma pesquisa inédita produzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad - IBGE) - com dados de 2004 - e indica que o país vem avançando desde o início da década na redução das desigualdades entre pobres e ricos. A pesquisa aponta também que, em 2004, a renda média do brasileiro cresceu 3,6%, enquanto a renda dos mais pobres chegou a crescer 14,1%”. A questão da desigualdade é daquelas colocadas para confundir as pessoas. Os socialistas e comunistas, que fazem da desigualdade o suporte de seu discurso para justificar a sua ação, jamais lembram aos interlocutores que ela é intrínseca à humanidade e espelha os diferentes talentos que os indivíduos possuem. A igualdade como objetivo econômico e político é uma enorme violência contra o ser humano, uma violação dos direitos naturais e é incompatível com a liberdade e a propriedade privada, seu fundamento último. Portanto, fazer discurso a partir de constatações estatísticas da desigualdade é praticar falácias, é partir de uma falsa premissa para demonstrar uma falsa conclusão. É pugnar por uma ordem política totalitária, única via de estabelecimento da igualdade e, ainda assim falsa, na medida em que os controladores do Estado serão sempre a classe diferenciada e beneficiada, em detrimento da coletividade. As experiências históricas demonstram isso à sobeja. Isso posto, convém lembrar que a tal “melhora” estatística relatada na nota se deu no momento em que a carga tributária mais se avantajou no Brasil, portanto em que o roubo travestido de impostos teve sua máxima efetividade. O missivista não se pergunta o quanto custou ao Brasil de produtividade, de perda de eficiência econômica, de oportunidades de trabalho impedidas de serem criadas. Quanto custou essa imoralidade. Do vício não pode nascer a virtude. A atrofia do desenvolvimento brasileiro está diretamente vinculada à enorme carga tributária praticada, cuja porção menor tem ido financiar os tais programas “sociais”, que possivelmente afetaram as estatísticas. Mas, o que significam esses programas, como o bolsa-família e o bolsa-escola? Significam a prática clientelista e populista mais nojenta, um verdadeiro escambo entre uma esmola pública e um voto para manter a estrutura de poder lulista, o comércio que é o espelho do atraso político e a abolição da liberdade. Vista corretamente a notícia é triste. Vejamos a segunda nota: “Pesquisa divulgada pelo Jornal O Globo neste domingo (9) mostra que, entre 2005 e 2006, cerca de 7 milhões de brasileiros ascenderam na pirâmide social e chegaram à classe média - o que representa um acréscimo de 7,9% e uma expectativa de consumo da ordem de R$ 31 bilhões a mais. A ascensão de grandes contingentes das classes D e E para a classe C foi detectada pelo Instituto Target, com base em dados do IBGE, e confirmada por outras duas instituições: a Fundação Getúlio Vargas e o LatinPanel, ligado ao Ibope. As políticas do governo Lula foram determinantes para a expansão dos setores intermediários da população. Segundo especialistas ouvidos pelo jornal, a evolução se deve ao crescimento de emprego com carteira assinada, à recuperação do poder de compra dos salários e ao aumento da oferta de crédito no país. Outro jornal, a Folha de S.Paulo, chegou a conclusões parecidas em pesquisa Datafolha também divulgada neste domingo”. Sublinhemos as causas apontadas: 1- Crescimento do emprego com carteira assinada. Ora, quem, como eu, acompanha o que se passa na economia sabe que o governo Lula tem forçado as empresas terceirizadas, que contratam ou por pessoa jurídica ou de maneira informal, a que se assine a carteira. É um jogo de soma zero não captado nas estatísticas. Como os investimentos estão em nível abaixo do necessário, não há como gerar novos empregos na quantidade demandada. Em resumo, o que aparece como emprego formal desapareceu como emprego informal. É a pura falsificação estatística e não reflete uma melhorar no bem-estar coletivo, pois mais das vezes a formalização do emprego é seguido por uma queda na remuneração do trabalhador. 2- Aumento do poder de compra dos salários. Esse efeito está vinculado diretamente à sobrevalorização cambial, que está destruindo a agricultura e a indústria de exportação. No curto prazo há um efeito fantástico, uma espécie de embriaguez que custará muito caro ao Brasil. No dia em que a balança comercial apresentar saldo negativo reviveremos as velhas crises cambiais, com toda força. Junto, virá a necessária desvalorização do câmbio e o efeito inflacionário inevitável. Essa mentira econômica não pode durar, talvez nem chegue ao final do ano. A bomba-relógio da crise está ativada e vai explodir. 3- Aumento da oferta de crédito. Esse efeito está atrelado também à irresponsabilidade cambial. Em uma situação em que é necessária a criação de excedentes exportáveis, afrouxar o crédito ao consumo é uma forma de irresponsabilidade que custará muito ao Brasil. Todos esses indicadores só seriam saudáveis se fossem produto de investimentos sadios das empresas privadas e de uma prosperidade genuína. Lamentavelmente, são produto do distributivismo mais burro e imoral. Vejamos a terceira nota: “Nível de endividamento externo é o mais baixo desde 1995. Em maio, a dívida externa total do país (pública e privada) atingiu US$ 160 bilhões. É o patamar mais baixo desde dezembro de 1995. De lá para cá, o pico da dívida foi de US$ 241 bilhões, registrado em 1999 e 2000”. Atribuir a melhora do desempenho externo da economia e portanto a redução da dívida externa ao governo Lula é simples má fé. O fato é que a economia mundial passa por um momento de grande prosperidade, de forte expansão do comércio, e o Brasil pouco foi favorecido por esse momento em virtude das políticas equivocadas de Lula e seu partido, que hostilizam os EUA e tentam fazer comércio com países fracos, que não têm dinheiro para comprar e nada têm para vender. Além disso, o governo Lula tem beneficiado politicamente a China, país que tem sido o maior concorrente brasileiro, seja em mercados tradicionais, seja nos novos mercados, seja, ainda, ocupando o nosso mercado interno e prejudicando a nossa balança comercial. No plano econômico internacional Lula tem feito tudo errado, um verdadeiro desastre para a Nação. Como se vê, meu debatedor enxerga benefícios onde deveria ver mazelas. Não sabe ler estatísticas, não consegue discernir a realidade, não tem tirocínio para separar o trigo do joio. Como ele os milhões de eleitores de Lula, que se equivocam alegremente e, qual girinos nadando na poça ao sol, não sabem que no momento seguinte a sua condição de liberdade e sobrevivência está para desaparecer. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.
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