Primeiro eram cartas. Longas e desaforadas cartas, não raro manuscritas (só de pensar em escrever tanto assim com a mão já fico com tendinite). Depois foram as grosserias e baixarias num espaço de interação com o visitante que abri (e logo fechei) em meu site pessoal. A seguir foram os infindáveis e renitentes e-mails. De vez em quando surgia algum bem redigido, contendo argumentos e suscitando o desejo de responder e contra-argumentar. Gradualmente fui percebendo que, mesmos estes últimos, incorriam na sistemática incapacidade de conduzirem qualquer discussão ao completo esclarecimento: quando sua posição perdia substância, mudavam de assunto e abriam outro debate até comporem o mesmo e infindável rosário de vigorosos ataques e frágeis e fugidias defesas. Fui colecionando todo esse material e não exagero se afirmar que dá para escrever um livro só com ele. Não o faço porque será uma obra chata e repetitiva. Quase uma cartilha sobre como encher a paciência dos outros. A partir de 2003, essas mensagens foram se reduzindo, minguando em freqüência e volume, até cessarem por completo. As violas acabaram sendo ensacadas e as contrariedades enrustidas num silêncio sepulcral. Não duvido de que os consultórios psiquiátricos andem repletos de novos pacientes, portadores de uma síndrome de depressão ideológica em busca de cura e saúde. Vez por outra, algum desconhecido, ao encontrar-me nas ruas, em postos de gasolina, restaurantes, saídas da missa, vem ao meu encontro para chamar-me de profeta. Não visto a túnica, contudo, porque sei que ela não me serve. Em momento algum, ao longo das últimas duas décadas, fui capaz de prever os terríveis descaminhos pelos quais transitaria a política nacional nestes últimos anos. Seria um profeta incompetente e sem inspiração, perante a fértil perfídia evidenciada pela esquerda ao assumir o poder. Por isso, sou grato às muitas e estimulantes mensagens que recebo contendo reconhecimentos dos quais me considero destituído dos correspondentes méritos. Apenas combati o que via. E o que via era muito menos do que seria possível intuir se tivesse capacidade para tal. Assim, posso exibir tão-somente o termômetro da interatividade acima mencionada. Ela é uma evidência, bem catalogada, de que a militância enfurecida perdeu impulso e, em muitos casos, a própria razão de existir. E isso produzirá conseqüências políticas e eleitorais nos pleitos que se avizinham. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.
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