Teoricamente, todos deveríamos ter acesso a serviços essenciais, como saúde, educação, previdência, segurança, entre outros. Aliás, considerando nossa inalienável condição de cidadão, deveríamos ter respeitados vários outros direitos básicos, como moradia, transporte coletivo de qualidade, entre outros. Em diversos países, a rede de proteção social e os serviços públicos funcionam perfeitamente, o que demonstra que não existe utopia em defender tratamento semelhante para nós brasileiros. Acontece que, em nosso País, o Estado tem sistematicamente falhado e fugido de sua responsabilidade. Penaliza os cidadãos com a falta de eficiência na gestão da coisa pública e prioriza outros interesses que não o bem-estar da comunidade. O resultado é que acabamos pagando caro para garantir o acesso a serviços que teriam de ser ofertados adequadamente - e muitas vezes gratuitamente - pelo governo. Recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) atesta que o brasileiro de classe média, por exemplo, trabalhou 113 dias deste ano de 2006, apenas para garantir o acesso, com qualidade aceitável, à saúde, educação, segurança, boas estradas... Ou seja, só começou a trabalhar para responder às demais necessidades, como comer, vestir, ter lazer, em 24 de abril. Até então, a labuta só serviu para suprir as lacunas deixadas pelos maus governantes. Se ainda houvesse um pouco mais de justiça para os brasileiros menos favorecidos economicamente, talvez relevássemos em parte esse autêntico descalabro. Entretanto, não é isso o que acontece. Na área de saúde, por exemplo, o cidadão que depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) recebe tratamento sofrível. Faz anos, décadas, que os pacientes se queixam, e com toda a razão, das filas de espera para as consultas no SUS. Isso sem falar nas reclamações sobre a longa espera para internações, a falta de equipamentos, aparelhos, remédios, entre outras dificuldades. Porém, nada muda, infelizmente. É lamentável, mas este é o retrato do País hoje. O problema é a total falta de prioridades. O gasto médio em saúde pública per capita no Brasil é de US$ 170, algo em torno de R$ 391,00, ou seja, R$ 1,07 por dia por pessoa. Para ter uma idéia de como essa quantia é insuficiente, dez anos atrás, alguns países da América Latina já investiam mais em dólares americanos: Argentina (US$ 823), Uruguai (US$ 849), Bahamas (US$ 1230). O brasileiro precisa aprender a se rebelar contra essas injustiças, pois as mudanças com as quais sonhamos só nascerão de baixo para cima. Um bom começo é não dar uma nova oportunidade àqueles que foram eleitos e traíram sua confiança. É necessário também que a sociedade se organize cada vez melhor e cobre mais investimentos e eficiência no trato da máquina pública, além de garantia de acesso a áreas fundamentais, como saúde, educação, segurança, entre outras. Com certeza, construiremos um País melhor se tivermos consciência de algo básico: a cidadania não tem preço, é um direito sagrado seu, meu e de todos nós. Nota do Editor: Eleuses Vieira de Paiva, ex-presidente da Associação Médica Brasileira.
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