Era uma noite sombria e chuvosa, e Carol acabara de brigar com seus pais. Tinha desejado ganhar em seu aniversário uma linda boneca Barbie, mas vieram-lhe oferecer um vestido de seda, bordado com pequenas esmeraldas e brilhantes. A menina de cinco anos, aborrecida por não corresponderem a mais um de seus caprichos, chora copiosamente. Olha o quarto repleto de brinquedos e passa-tempos que ela não dava mais a mínima atenção. No armário os teletubbies e a Chapeuzinho Vermelho parecem tristes. Seria por não terem mais os afagos de Carol? Com os olhos aflitos, subitamente a garota corre de encontro à janela, passando ao portão, num descuido do segurança. De repente, em um piscar de olhos, Carol encontra um outro mundo - ela vê os arranha-céus que formam um conjunto arquitetônico, junto ao verde da Praça da Sé. De início, observa ao longe algumas moças com vestes curtas. "O que poderiam estar fazendo?", perguntou-se. Após um quarto de hora, ao virar uma esquina, poderia se dizer que ela estaria totalmente sozinha se não fosse sua presença e a de alguns cães a espreitá-la. Eles a lambem, estão com fome, os uivos cortam quarteirões. Em casa, na grande mansão dos Souza, Júnior, o irmão de Carol, vai ao quarto da irmã para avisar que é hora de saborear o peru que Isaura, a empregada, prometeu fazer. Ele pensa em lhe dar um susto, mas encontra apenas a janela aberta. Aflitos, seus pais começam a procurar por todas as imediações da casa. No cenário urbano, relâmpagos parecem cortar o céu. Já distante, Carol observa que a rua começa a virar piscina. E uma inquietude toma conta de si. Ao virar a esquina, depara-se com choros e gritos de crianças. Uma mulher estende as mãos, dizendo que precisa comprar algo para seu bebê se alimentar. Sem entender, a garotinha assusta-se. Mais adiante, sente cheiros fortes e jura não lhes ter provado uma vez sequer. Nem mesmo Ken, seu cãozinho preferido, exalava cheiros tão ruins. No reflexo da luz viu uma aglomeração de seres humanos. Mulheres, homens e crianças pareciam cochichar... "Senhor meu Deus dai-nos um caminho, uma esperança". A pequena acha tudo aquilo estranho, e lembra de ter visto algo parecido com o que vivenciava, mínimas vezes quando seu pai mudava os canais de TV. Mesmo não entendendo quase nada do mundo de "gente grande", ela percebe que aquela situação é ruim. As lágrimas começam a cair ao ver que o choro das crianças não termina e arrepende-se. Naquele instante, a barriguinha clama por algum alimento. Começa a perceber que o seu mundo é bem melhor, repleto de conforto, e cheio de mil coisas ao seu alcance. Em sua inocência de criança começa a pedir ajuda ao Chapolin Colorado. Carol clama por ajuda, mas as Meninas Super Poderosas parecem estar de folga. Sente a falta do carinho de sua mãe, que sempre lhe afaga com um EU TE AMO! Na rua, com as vestes molhadas, o semblante triste, o brilho das pequenas esmeraldas e brilhantes espalharam-se. Pareciam vaga-lumes a voar na escuridão dos becos na noite. Ao longe, sirenes gritantes berram parecendo estar aflitas. O som se aproxima, e com imensa felicidade Carol reconhece o rosto úmido e materno da mãe. Assim ela voa nos braços do amor maior. Naquele instante a inocente menina sentia algo inexplicável no seu coraçãozinho. Olhou para o céu, e quase que copiando os gestos daqueles que exalavam cheiros, agradeceu ao papaizinho do céu por ter acabado aquele mundo tão desconhecido e obscuro. Sentiu-se mais segura por ter um lar e estar novamente com sua família. Nota do Editor: Fabiano Sousa é estudante do último período do curso de Jornalismo - Universidade de Uberaba, em Uberaba, MG. Reside em Araxá.
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