Após o fiasco dos canarinhos movidos a dinheiro e sem qualquer patriotismo, agora é a vez dos políticos que reagem, com algumas exceções, aos mesmos incentivos. Aproximam-se as eleições e, embora saibamos pela experiência que os planos de governos não passam de sonhos com datas marcadas, podemos observar - como dantes - a ausência completa de elaborações programáticas com um grau mínimo de seriedade, por parte dos principais candidatos, especialmente dos que concorrerão aos cargos executivos - prefeitos, governadores e presidente. A velha história de tentar enganar o eleitor repete-se com uma monotonia de música minimalista e tudo indica que as coisas continuarão assim enquanto não se fizer uma reforma política de fôlego e enquanto o cidadão comum não aprender - nem que seja por cansaço, repetição, decepção ou frustração - que simples declarações de intenções estão longe de representar os caminhos propostos para que sejam alcançadas. Em 1989, Collor jurou que acabaria com os marajás; em 1994, Fernando Henrique prometeu importantes reformas que não realizou; Lula, em 2002, entre um e outro devaneio próprio de quem se julgava - e agora se julga ainda mais - um salvador da pátria, que geraria dez milhões de empregos; atuais governadores, que acabariam com a grave endemia da violência; prefeitos, que transformariam cidades em mares de rosas salpicadas pelo orvalho fresco da madrugada... "Se for eleito, prometo renda, crescimento e emprego", "se tiver a honra de contar com o seu voto, tudo farei pelos pobres, pela educação, pela saúde", "caso seja presidente, vou acabar com a festa da especulação financeira", "o meu governo foi o melhor que este país já teve"... Estas e outras declarações, ouvidas diariamente de candidatos de todos os matizes e partidos - e que tendem a avolumar-se a ponto de transformaram-se em avalanches de promessas até outubro - são desalentadoras, absolutamente desalentadoras, para quem sabe que entre uma promessa e uma realização existe uma distância muito grande. Como dizia aquele velho samba-canção, tão bem cantado pelo excelente Tito Madi, "mentira, é tudo mentira". O horário eleitoral gratuito, com toda a sinceridade, é uma agressão à inteligência dos telespectadores, a par de constituir-se em um engodo travestido de democracia. São dezenas, centenas de candidatos metidos em ternos ou em vestidos escolhidos pelos marqueteiros, lendo acintosamente os prompters colocados à sua frente, muitos atropelando involuntariamente - dado o seu despreparo - vírgulas, pontos e vírgulas e outros incômodos empecilhos de nosso difícil idioma... E aquele debate da fase final da campanha, além das excessivas regras que o impedem de ser de fato um embate de idéias, mais uma vez também corre o risco de não acontecer, porque parece haver-se tornado um uso e costume consagrado que o primeiro colocado nas pesquisas ameace não comparecer. Honestamente, enquanto não exigirmos uma reforma política que estabeleça partidos realmente programáticos, a farsa vai continuar e vou preferir manter desligada a televisão e me dedicar a coisas mais importantes. Mesmo que seja a divagar sobre o nada... E, já que somos obrigados - existe algo mais antidemocrático? - a votar, o que podemos fazer é não votar em nomes comprovadamente ligados aos maiores males que afligem o nosso país atualmente: o populismo infantil, a mentira deslavada e a corrupção. Conclamo o leitor inteligente a tentar o mesmo. Reconheço ser uma tarefa difícil, mas é mais do que necessária para que livremos o Brasil do bando de mestres na arte de empulhar, verdadeiros abutres prontos a nos darem o bote. Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.
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