Existe um consenso de que o poder pessoal aumenta na razão direta do conhecimento. Mas se esse poder tornará as pessoas mais felizes (no sentido de se sentirem mais centradas e em harmonia consigo próprio e com o mundo) depois de atendidas suas necessidades básicas, já é uma outra história. No plano social, o pensamento e o conhecimento coletivos, são construídos dia-a-dia pelo sistema de informações que circulam pelos diversos veículos que compõem a mídia. Valores, comportamentos e modismos não exigem grande reflexão pessoal, apenas uma adesão cômoda, uma postura consumista e não crítica que alimenta o imaginário das pessoas. Não é à toa que os políticos sobrevivem do alinhamento de rádios, jornais e tevês em torno do seu nome para que possam ter a imagem X ou Y e ganhar as eleições. Nesse contexto, cresce a responsabilidade da mídia: a circulação de informações e de referências sobre a vida e o mundo, não se efetivam apenas pelo contato pessoal e de grupos. Como intervir racional e criativamente nessa realidade que é de cada um e de todos ao mesmo tempo? O desafio é permanente: como conscientizar a sociedade ou pessoas de seus pontos fracos e fortes? Como expandir a percepção sobre fatos sociais, sentimentos, emoções e pensamentos? O objetivo desse processo coletivo ou individual é tornar as pessoas mais qualificadas a escolher. Existem vários caminhos afins que trabalham nesse sentido. Como é o caso da Psicanálise e da Imprensa. As duas atividades navegam no mesmo barco e são parceiras, porém com métodos diferentes de abordar a realidade. Cada qual do seu jeito, manuseia um espelho, que às vezes pode se tornar até "mágico" e surpreender. O jornalista começa o dia dirigindo seus sentidos para fora, enquanto o psicanalista aguça a percepção para realizar uma viagem para dentro dele mesmo e de cada paciente. Existem exageros românticos para os jornalistas ou "projeções infantis", segundo a Psicanálise. Não é à toa que as histórias em quadrinhos criaram o Super-Homem, disfarçado de um tímido repórter do Planeta Diário. Faz mesmo parte da história da Imprensa o perfil do jornalista ideal, feito por Stanley Walker, (anos 30) editor do jornal norte-americano New York Herald Tribune, que uma vez se pintou dessa forma: "O que faz um bom jornalista? A resposta é fácil: ele sabe de tudo. Está não só ciente do que vai pelo mundo, mas seu cérebro é repositório da sabedoria acumulada de todas as eras. Além disso, ele é algo psíquico e é capaz de sentir as notícias do dia seguinte, do próximo mês e até do ano que vem". Tanta pretensão, segundo James Reston, era própria do repórter americano daquela época, "que tinha prazer em caricaturar-se como um desordeiro romântico, meio detetive, meio Robin Hood". Hoje as coisas mudaram e essa figura acaba sendo ridícula diante da rotina diária dos "fechamentos", trabalhando principalmente com miudezas do cotidiano. Do outro lado, a imagem do psicanalista, idealizado às vezes como um Deus que tudo sabe, tudo vê, em permanente estado de iluminação, apesar de ainda ser cultivada em certos círculos herméticos, também sofreu desgastes depois do "banho de realidade". As duas profissões perderam um pouco do glamour histórico, o que foi muito bom para a democracia e para os pacientes. Na prática, na hora de operar esses sistemas, quando psicanalistas e jornalistas passam a trabalhar juntos, é que as diferenças de métodos se acentuam. Na Comissão de Psicanálise e Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto, por exemplo (que deixo de fazer parte neste mês de julho), foi preciso criatividade ao trabalhar com processos diferentes para conseguir a mesma coisa. Esta comissão, que é multidisciplinar, pioneiramente quer levar a Psicanálise além do divã, tentando repassar os benefícios do método terapêutico para outras profissões. Nesta experiência, ao cobrar uma resposta objetiva ou rapidez nas decisões, ainda me senti escravo das perguntas básicas para se redigir uma notícia: quem, quando, como, onde e por quê? Já para os psicanalistas, acostumados a interpretar metáforas, mesmo 15 minutos de silêncio podem significar um belo discurso. Acabamos nos dividindo portanto, entre os poderes da palavra e do silêncio. O que é aparentemente contraditório, acaba sendo produtivo. O que significa que mesmo em trincheiras diferentes, é possível somar esforços por um objetivo comum. Basta colocar isso como meta que todos sairão ganhando. A diversidade de religiões, crenças, valores, culturas, enriquece a experiência provinciana ou planetária. Isso vale para a Política com P maiúsculo e para a democracia, até agora o melhor regime para administrar divergências. E no Brasil de hoje, com os problemas que vivemos, é bom "turbinar" a memória, e não nos esquecermos dos 21 anos de ditadura formal. Ou ninguém tem medo de ditadura disfarçada? Como dizia um antigo comercial: "o que seria do amarelo se todos gostassem do vermelho?" Ou o velho aforismo francês: "tudo aquilo que difere de mim, longe de me ferir, me enriquece". Se conseguirmos passar esse conceito no dia-a-dia da profissão, pelo menos teremos dado mais um passo à frente, na melhoria dessa caminhada coletiva. Ou o melhor mesmo é cada um procurar sua turma e não se falar mais nisso? Nota do Editor: Rubens Zaidan é jornalista e radialista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, leia a seção "Iscas Intelectuais" em www.lucianopires.com.br.
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