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Opinião
31/07/2006 - 18h15
Barrados no baile
Milton Mira de Assumpção Filho
 

Ninguém, pelo menos que eu conheça, é contra o acesso de todos à água encanada e à luz elétrica. A universalização desses benefícios é um desses conceitos consensuais, assim como o de que o vetor do desenvolvimento das nações é a educação. O mesmo já não ocorre no caso do desemprego. Há alguns anos, o pleno emprego era uma das medidas para aferir o grau de desenvolvimento de um país. Hoje, no entanto, a tolerância com o desemprego é justificada pela falácia de que o pleno emprego dificulta o controle das taxas inflacionárias.

As principais vítimas dessa tolerância são os jovens. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que um em cada cinco desempregados no mundo tem entre 15 e 24 anos. Isto soma 88 milhões de pessoas, ou mais de 40% do total de desempregados. No Brasil, segundo o mesmo estudo, estão desempregadas cerca de 45% das pessoas com idades entre 16 e 24 anos – taxa muito superior à do desemprego em geral. Este indicador evidencia com clareza cristalina a dificuldade dos jovens brasileiros de encontrar colocação no mercado.

De certa forma, o baixo crescimento econômico registrado no País nos últimos anos explica, mas não justifica totalmente esses números. Por exemplo, em maio último, de acordo com a mais atualizada divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira teve incremento de 4,8% em relação a maio do ano passado. E as projeções são de que este percentual seja ainda maior no segundo semestre de 2006. No entanto, nada indica que esses investimentos na área industrial resultem em modificações significativas nas altas taxas de desemprego entre os jovens. Ao contrário, alguns estudos mostram que muitos desses investimentos ou são em atividades pouco demandadoras de mão-de-obra, ou se dirigem a setores que exigem alta qualificação profissional.

Ou seja, mesmo que o País cresça mais do que os esperado até aqui, muitos dos jovens desempregados continuarão barrados no baile da vida digna. Em outras palavras, mesmo superadas as dificuldades do que se convencionou chamar de desemprego conjuntural, cuja causa é o baixo investimento, ainda restam o estrutural e o tecnológico. Dentre outras conseqüências, estes tipos de desemprego eliminam ou dificultam o acesso aos postos de trabalho em razão da entrada em cena de novas tecnologias que, no mínimo, exigem um trabalhador mais qualificado.

Tal desencontro entre o contingente cada vez maior de jovens em busca da porta de entrada no mercado e a capacidade deste de os absorver tem várias causas. Há, por exemplo, uma ausência evidente de política efetiva que assegure a oportunidade de um primeiro emprego. A única política que tem revelado alguma eficácia é a de estágio para estudantes universitários, mesmo assim com falhas e, algumas vezes, com distorções gritantes. São desvios muitas vezes originados da proliferação de faculdades cujos cursos mais deformam do que preparam os alunos para um mercado de trabalho cada vez mais exigente.

Assim, na melhor das hipóteses, resta aos jovens que não são universitários apenas a porta dos fundos da economia informal. De acordo com os dados da OIT, esta tem sido a única alternativa para cerca de 93% dos jovens que procuram o mercado a cada ano. O pior é que não há sinais no horizonte de que essa situação possa experimentar melhoras. Ao contrário, o que vemos é um descaso cada vez maior dos governos com relação à educação. A atual administração, por exemplo, reduziu substancialmente a aquisição de livros escolares para privilegiar políticas nitidamente assistencialistas na área.

Também há uma evidente má vontade das autoridades públicas e parlamentares em debater a sério modificações na Legislação Trabalhista de maneira a estimular as empresas a contratarem mais jovens. A ausência dessas e outras medidas que configurem uma política real de enfrentamento do problema é apenas a face mais visível de uma crise mais geral, que passa, inclusive, pelas distorções nos conceitos éticos tão bem revelados na crise política que vivemos. A questão é que a falta de uma política efetiva de inclusão dos jovens no mercado de trabalho é uma omissão trágica, cujos resultados podem ser facilmente identificados no aumento da criminalidade e violência urbana a que todos, estarrecidos, estamos assistindo.


Nota do Editor: Milton Mira de Assumpção Filho, diretor da Editora M. Books, é membro da Academia Brasileira de Marketing (miltonmira@terra.com.br).

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