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SEÇÃO
Crônicas
01/08/2006 - 05h32
Badô sai da prisão
Luiz Guerra - Agência Carta Maior
 

Badô, por exemplo. Assim que foi solto, passou a freqüentar a Esquina do Estabaco. Por causa de um roubo de bicicleta seguido de morte, pegou trinta anos de cadeia e cumpriu a metade; ficou quinze anos trancafiado só pelo episódio da bicicleta, porque nesse meio tempo acabaram descobrindo que o comparsa dele é que dera o tiro na vítima. Tinha ido em cana aos trinta, e quando apareceu entre nós estava com quarenta e cinco, na época vinte e cinco anos mais velho do que eu. Em sua temporada carcerária fez o ginásio e o colégio (primeiro e segundo graus) e dirigiu a biblioteca do presídio. Ajudou muitos companheiros lá dentro e leu uns oitocentos livros. Quando voltou, encontrou os companheiros de sua geração casados e começou a se perder um pouco entre várias gerações diferentes, além de não conseguir aturar nenhum dos empregos que lhe arranjavam, todos muito modestos. Era muito bem aceito entre nós na Esquina, mas a maioria dos moradores do bairro não fazia muita fé na sua recuperação. Recuperação de quê? De um roubo de bicicleta ou de ter ficado tantos anos preso no meio da bandidagem? Podia ter índole de bandido um cara que só cuidava de livros na cadeia? Bem, não era convidado para porra nenhuma. Só encontrava refresco na Esquina, e só então passei a conhecê-lo melhor, exatamente porque tínhamos esse amor comum pelos livros. E descobri algo assustador: Salvador (era o seu nome verdadeiro) especializara-se em biografias dos homens mais ricos do mundo. Era um obcecado por saber tudo o que esses homens tinham feito para reunir tanto dinheiro, o que faziam com a grana, os bens que possuíam e as mulheres bonitas e famosas que já tinham levado para a cama. Era esse o grande papo do Badô, era essa a sua grande leitura, e, embora duro toda a vida, só abria o jornal para ver os anúncios de grandes mansões à venda, dos melhores restaurantes da cidade e dos suntuosos ternos de tropical inglês brilhante com que se via cortejando uma vizinha nossa que tinha verdadeiro horror à presença dele. Um dia, para minha tristeza, que sempre tentava buscar um pouquinho de ouro atrás daquela obsessiva mania de grandeza, percebi que já o começavam a chamar de Badô Onassis (eram os tempos do famoso armador grego e sua Jacqueline Kennedy). Como não aceitava salário baixo, não tinha onde morar nem podia mais recorrer aos seus velhos amigos de infância e juventude, lembrou-se que a sociedade já não estava nem aí mesmo para a suposta "recuperação" dele, e passou a vender drogas para os traficantes da área. Um dia embolsou uma grana preta em troca de uma grande partida de cocaína e sumiu do mapa. Mas como o mapa dos traficantes possui detalhes de que a gente nem desconfia, encontraram-no numa casa de praia com uma loura de arrebentar shopping center e acabaram com ele, a pauladas. A loura? Não sei o que fizeram com a loura.

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