Minha tataravó teve quinze filhos. Quatro morreram ainda pequenininhos, mas onze sobreviveram belos e faceiros. Viveram, comeram, brigaram, desmataram, jogaram porcarias nos rios, essas coisas que os homens costumam fazer no decorrer de suas curtas e tristes vidas. E todos eles, é claro, também casaram e tiveram mais um monte de filhos, numa média de oito cada um como ainda era costume na época. Entre eles estava a minha bisavó, que teve seis filhos, três meninas e três meninos que, por sua vez, tirando um tio meu que virou padre, também seguiram os preceitos bíblicos e procriaram bastante, tendo aí uns quatro filhos por casamento - o que, se perto dos meus tataravós é um número bastante ínfimo, quase irrisório, ainda é um número bastante significativo para a geração dos meus pais, que nasceram desses últimos casamentos e tiveram aí, um máximo de três rebentos por casal. Até que, finalmente, chegou a vez da minha geração. - Mas mais um filho pra quê? - Pra fazer um casalzinho, ué. - Por quê? Você vai querer que nossos filhos se casem? - Cruz credo, é claro que não! - Então pra quê você quer um casalzinho? - Pra, pra... sei lá, pra ver como é ser mãe de um menininho e uma menininha. - Pois pergunta para sua mãe que ela sabe como é. Ela teve seu irmão e olha lá no que deu. - Não fala mal do meu irmão! - Eu falo mal de quem eu quiser! - Pois a sua irmã também não é lá essas coisas, aquela piranha! - Aquela o quê? Aquela o quê? E foi assim que a minha geração teve, basicamente, um filho por casal, os quais nasceram e cresceram em lares absolutamente neuróticos e fez com que optassem por vidas solitárias e pouco afeitas a relações mais duradouras. Os poucos descendentes dessa geração, meus netos, nascerão e crescerão num mundo esquisito, violento e cheio de doenças sexualmente transmissíveis. As facilidades da informática facilitarão cada vez mais os relacionamentos virtuais o que, obviamente, inviabilizará novos nascimentos. Dessa maneira, em uma geração ou duas, o número de seres humanos sobre a Terra entrará em franco declínio e, já no início do século XXII, o planeta finalmente voltará à sua paz original, absolutamente livre da espécie humana e sendo governado, quem sabe, pelas árvores. - Eu disse pra você que era só ficar aqui parada, esperando - disse a Sequóia. - É, eles eram uns animaizinhos muito afoitos - respondeu o Jequitibá, dando uma pequena oscilada com o vento.
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