13/09/2025  03h27
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
02/08/2006 - 16h00
Árvores não tomam Viagra
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

Minha tataravó teve quinze filhos. Quatro morreram ainda pequenininhos, mas onze sobreviveram belos e faceiros. Viveram, comeram, brigaram, desmataram, jogaram porcarias nos rios, essas coisas que os homens costumam fazer no decorrer de suas curtas e tristes vidas. E todos eles, é claro, também casaram e tiveram mais um monte de filhos, numa média de oito cada um como ainda era costume na época. Entre eles estava a minha bisavó, que teve seis filhos, três meninas e três meninos que, por sua vez, tirando um tio meu que virou padre, também seguiram os preceitos bíblicos e procriaram bastante, tendo aí uns quatro filhos por casamento - o que, se perto dos meus tataravós é um número bastante ínfimo, quase irrisório, ainda é um número bastante significativo para a geração dos meus pais, que nasceram desses últimos casamentos e tiveram aí, um máximo de três rebentos por casal. Até que, finalmente, chegou a vez da minha geração.

- Mas mais um filho pra quê?

- Pra fazer um casalzinho, ué.

- Por quê? Você vai querer que nossos filhos se casem?

- Cruz credo, é claro que não!

- Então pra quê você quer um casalzinho?

- Pra, pra... sei lá, pra ver como é ser mãe de um menininho e uma menininha.

- Pois pergunta para sua mãe que ela sabe como é. Ela teve seu irmão e olha lá no que deu.

- Não fala mal do meu irmão!

- Eu falo mal de quem eu quiser!

- Pois a sua irmã também não é lá essas coisas, aquela piranha!

- Aquela o quê? Aquela o quê?

E foi assim que a minha geração teve, basicamente, um filho por casal, os quais nasceram e cresceram em lares absolutamente neuróticos e fez com que optassem por vidas solitárias e pouco afeitas a relações mais duradouras. Os poucos descendentes dessa geração, meus netos, nascerão e crescerão num mundo esquisito, violento e cheio de doenças sexualmente transmissíveis. As facilidades da informática facilitarão cada vez mais os relacionamentos virtuais o que, obviamente, inviabilizará novos nascimentos. Dessa maneira, em uma geração ou duas, o número de seres humanos sobre a Terra entrará em franco declínio e, já no início do século XXII, o planeta finalmente voltará à sua paz original, absolutamente livre da espécie humana e sendo governado, quem sabe, pelas árvores.

- Eu disse pra você que era só ficar aqui parada, esperando - disse a Sequóia.

- É, eles eram uns animaizinhos muito afoitos - respondeu o Jequitibá, dando uma pequena oscilada com o vento.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.