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SEÇÃO
Crônicas
02/08/2006 - 20h05
Quarta-feira
Paulo Ludmer
 

Quarta-feira é o nome de uma oficina literária que se reúne desde 1994 (são doze anos), na cidade de São Paulo, no terceiro dia útil de toda semana, sempre na casa de um escritor participante. Um fenômeno a registrar publicamente. Não se trata de um movimento artístico, mas de uma ocorrência histórica pelo ineditismo e constância.

Mais de três dezenas de autores (alguns jornalistas) - vários publicados - concretizaram esse marco singular, que se renova invariavelmente. Neste tablado, seus textos, antecipadamente distribuídos e analisados, são discutidos à exaustão pelos presentes.

Nada restringe esses textos: há crônicas, poesias, contos, hai kais, romances e até ensaios, teses e palavras arrumadas, às vezes inclassificáveis pela nomenclatura conhecida. Os temas são livres.

Uma fila por ordem de chegada dos textos, à medida em que são realizados e oferecidos à discussão do grupo, é o critério da eleição do mote de cada noite de encontro dos "padeiros", como se intitulam internamente os membros da confraria.

Realizações maiores (novelas, romances) ocupam mais de uma jornada de debate. No entanto, um conto curto de vinte linhas absorve horas de conversação e, conforme as circunstâncias, demanda e dispõe de mais tempo de todos.

Como explicar esta seqüência inusitada, cuja primeira regra é não aceitar regras, considerando genericamente que oficinas literárias têm costumeiramente objetivos e prazos finitos?

Eis os contornos da Quarta-feira:

• Os interessados, decididamente, querem escrever literatura; portanto supõem que têm o que dizer;

• Pretendem reduzir sua solidão e aumentar sua segurança de escritor;

• Numa usina de conhecimento coletivo reconhecem que compartilhar é otimizar a potência individual; e,

• Os trabalhos se restringem à análise do conteúdo dos textos.

É inevitável que uma oficina de vida tão longa produza outras conseqüências, de naturezas diversas e imprevisíveis, a começar pela troca de informações (que antecedem a geração de conhecimentos) até a função terapêutica espontânea de vida em grupo.

Aspectos psicológicos tais como a sensação de pertencer a um grupo, capaz de atribuir uma adicional legitimidade a seus indivíduos, transmitem conforto a cada pessoa. Dar voz e voto instiga o sujeito.

Ampliar a rede de relacionamentos; socializar repertórios pessoais; fortalecer a escuta humilde e eficaz, somam ingredientes atraentes, apesar de não nucleares, na especificidade de uma oficina de escritores.

Cômica costuma ser a absorção de novo participante. A falta de regras, de um lado, e o fato de as reuniões se realizarem na intimidade da casa de cada um, promovem debochadas, paranóicas e divertidas discussões. Na maioria das noitadas, comes e bebes emolduram o falatório. A turma chega do trabalho com sede e fome. Desafio e ônus para o anfitrião.

Como explicar que a Quarta-feira siga em frente? Talvez o primeiro vetor seja sua coordenação - pelo poeta e ensaísta Carlos Felipe Moisés, desde o nascimento do grupo. Ele se renova a cada sete dias. O segundo vetor é a presença estrutural e vigorosa de parte dos participantes, desde a criação da oficina, transferindo-lhe historicidade, credibilidade e confiança. O terceiro pode ter sido a publicação (do livro Quarta-Feira) de coletânea de textos do grupo, realçando seus vínculos: um objetivo que agora se renova em busca da segunda produção.

Finalmente, o vetor mais importante é abstrato. Como um poema, possui mais de um sentido, a Quarta-feira "é do teor seguinte", reitera Carlos Felipe Moisés.


Nota do Editor: Paulo Ludmer é "padeiro", jornalista, professor de Comunicação da FAAP, engenheiro e escritor com o site www.pauloludmer.com.br. Autor, entre outros, de Linguaçodada (Massao Ohno, 94); Outrarias (Massao Ohno, 98); Alcinhas (Massao Ohno, 2002); Circuncisão (Espaço Editorial, 2003); Foz (Espaço Editorial, 2003) e Falésia (Espaço Editorial, 2005).

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