Em 21 de julho deste annus mirabilis de 2006, teve lugar em Córdoba - a segunda cidade mais importante da Argentina - mais uma memorável reunião do Mercosur em que se falou de quase tudo, menos de isenções tarifárias para os países-membros. Com isto, fica provado e comprovado que o Mercosurrrrrr não é definitivamente um verdadeiro bloco econômico: está mais para um bloco de carnaval. Destacou-se a presença de um país convidado: Cuba. E de seu supremo manda-chuva: El Coma Andante, o decano das esquerdas delirantes de toda a América do Sul. Como se sabe, o Mercosur está em plena expansão e a maior prova disto foi a recente inclusão da Venezuela, um país que tinha que deixar de ser um excluído, considerando sua grande importância comercial no Continente. O mesmo podendo ser dito do pujante mercado livre em Cuba, que infelizmente não pode entrar para o Mercosur, porque está localizada no Caribe. Ora, isto não é problema: basta mudar o nome para Mercolatinoamericano. E caso, se pretenda expandir ainda mais o bloco, incluindo alguns países africanos: Mercoterceiromundo. Lullinha Paz e Amor fez um de seus mais arrebatadores discursos de improviso em que, entre outras coisas, disse que naquele histórico momento o Mercosur se projetava no mundo preparado para fazer frente ao Mercado Comum Europeu e ao NAFTA, mercados dos colonizadores que teriam de enfrentar agora um mercado dos colonizados. Logo após a poderosa fala do Cícero de Garanhuns, tomou a palavra o Demóstenes de Caraças. No meio de seu notável discurso, quando enaltecia o brilhante futuro do Mercosur, Hugorila Chávez subitamente abriu um parêntese inesperado: voltou-se para Lullinha Paz e Amor e indagou quando seria o primeiro turno das eleições no Brasil. Aí então soltou seus brados varonis: GANARÁ LULA! GANARÁ LULA! Ouviu-se uma estrondosa gargalhada. Todos riram - com riso nervoso - menos o próprio Lulla, que ficou com cara de cachorro fazendo cocô na chuva. Sabe-se que seus 73 assessores diretos tinham pedido encarecidamente a Hugorila Chávez para que fosse discreto e que, em momento nenhum, deixasse transparecer que ele apoiaria, com seus petrodólares, um candidato a Presidente de outro país, no caso o Brasil. Sabe-se que recentemente Hugorila Chávez criou um sério problema diplomático com o Peru por ter apoiado, ideológica e financeiramente, o candidato da esquerda nacionalista Ollanta Humala e, ao mesmo tempo, ter chamado o adversário deste mesmo - a saber: Alan Garcia - de "corrupto, ladrão e sem-vergonha". Parece que o Mercosur se transformou numa entidade puramente política, o que já era esperado desde sua inauguração, dada a sua completa irrelevância de um ponto de vista econômico. O companheiro Chávez apóia o companheiro Lulla, o companheiro Lulla apoia o companheiro Tabaré Vázquez, e o companheiro Néstor Kirchner apóia o companheiro Lulla. De onde se conclui que os companheiros da esquerda sul-americana apóiam uns aos outros ou apóiam-se uns nos outros. Para não escorregarem e levarem tombos. E assim terminou mais um glorioso encontro do Mercosur, mas não sem El Coma Andante dar o ar de sua graça. Após ter feito um breve discurso de improviso de 6 horas e 36 minutos, em que contou toda a história de Cubanacan, desde a descoberta feita por Colombo até ele - um jornalista argentino perguntou-lhe como ficariam as coisas em Cuba após a sua morte. Entendendo que estava em jogo os subentendidos de que sua morte não só era iminente como também assaz desejável, El Coma Andante botou fogo pelas ventas e vociferou: "Quem está lhe pagando para me perguntar isto?" Ora, todo mundo sabe quem está sempre pagando: El Monstruo*, que aliás tinha preparado mais um atentado para matá-lo, descoberto a tempo pelo eficientíssimo serviço de inteligência cubano. * El monstruo (em português: O monstro) é como El Coma Andante, Fidel Castro, em seu jargão, chama os Estados Unidos. APÊNDICE I: O OVO DA SERPENTE
Ficamos sabendo que Hugorila Chávez gastou cerca de R$ 1.000.000.000,00 (Um bilhão de reais!) na compra de aviões de caça russos e mais metralhadoras Khalinokov. Com mais estas comprinhas, a Venezuela possuirá, se é que já não possui, o mais bem armado exército da América do Sul. Cabe perguntar: Por que um país do Terceiro Mundo precisa ter um exército de Primeiro Mundo? Quem pretende atacar ou de quem pretende se defender? Segundo o caboclo Chávez y Chapolin, esse exército é para se defender de algo que ele tem como certo e inexorável: uma invasão dos Estados Unidos, para cortar sua cabeça. Bem, supondo que sua preocupação tenha algum fundamento, fica muito difícil explicar o que estão fazendo na Venezuela mais de 1.000 cubanos especialmente treinados para operações de guerrilha na selva?! O fato é que ninguém acreditava que aquele palhaço de bigodinho de Carlitos iria invadir mesmo a Polônia desencadeando a Segunda Guerra. E na época, todo aquele que manifestasse o menor temor de tal coisa era, no mínimo, visto como um alarmista adepto da teoria conspiracionista. Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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