Por favor, não interpretem mal o título desta crônica. Nada tenho contra os maridos, mesmo porque sou um deles, e isto há bastante tempo, e nada tenho contra o casamento, instituição que gera os maridos e que, apesar de seus múltiplos problemas, continua sobrevivendo - provando que, de alguma maneira, corresponde às necessidades dos seres humanos. É a palavra "marido" que não me agrada. A começar pela origem: vem de uma palavra latina que quer dizer macho - cheira, portanto, a machismo. É por isso, aliás, que o termo não tem feminino: não falamos em "marida", embora esta palavra até tenha existido numa certa época. Depois, "marido" designa uma categoria social que, exatamente por sua conotação formal, rígida, não inspira muita simpatia. O filósofo Montesquieu é categórico: "Todos os maridos são feios" ("Tous les maris sont laids"), garantia, já no século 18. Georges Feydeau moderava um pouco a acusação: "Os maridos das mulheres que nos agradam são sempre uns imbecis", mas Arnold Bennet destacava o caráter burocrático da categoria: "Ser marido é um emprego de tempo integral". Oscar Wilde contrastava termos: "A grande tragédia da vida de uma mulher é que o namorado de ontem é o marido de hoje". As outras denominações não são muito melhores. Esposo, por exemplo. Permite "minha esposa", um pouco melhor que o horrendo "minha senhora", mas - quem, mesmo, quer ser "esposo"? E "cônjuge"? Deus, o que é isto, "cônjuge"? A palavra nem sequer varia de gênero: é a mesma para os dois sexos. Já que falamos na cônjuge, é bom lembrar que a coitada também não é muito bem aquinhoada no que se refere às denominações. Se o marido quiser evitar o "minha esposa", o "minha senhora" ou o "minha cônjuge", terá de usar o "minha mulher", que pelo menos não é tão pernóstico. Mas é assimétrico. A "minha mulher" não pode falar no "meu homem", sob pena de parecer submissa. É curioso como, na convivência do dia-a-dia, os casados criam alternativas para esta nomenclatura. Homem nenhum dirá: "Esposa, vem cá, preciso de tua ajuda". Mulher alguma proporá: "Cônjuge, vamos ao cinema hoje?". Não, as pessoas aprendem a ser criativas, mesmo porque a longa convivência acaba por exigi-lo. Surgem os diminutivos, os apelidos. E lá pelas tantas eles se tornam importantes. A atriz e cantora Jessica Simpson divorciou-se de seu marido, Nick Lachey, porque ele não queria ter um apelido em comum com ela (tipo BradJen, que designava o casal famoso, Brad Pitt e Jennifer Aniston). Nick alegou que não era bem assim: adotaria um apelido comum com a esposa, mas desde que a parte correspondente a ele, Nick, viesse primeiro. Bota machismo nisso. "O que há num nome?", pergunta Shakespeare, acrescentando que uma rosa continuaria sendo uma rosa, mesmo sob outra denominação. No caso das flores, pode ser. Mas no caso do matrimônio, onde nem tudo são flores (aliás, é uma boa razão para que o marido dê flores à mulher), não é bem assim. Mas felizmente as pessoas não são só esposas ou maridos. São pessoas, entidades independentes, têm seus nomes próprios, seus apelidos, suas alcunhas se vocês quiserem. Destas individualidades é feita a união. "Nós dois formamos uma multidão" é um antigo dito referente a apaixonados. Tudo bem, desde que não seja uma multidão de maridos.
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