Opinião Reflexões inoportunas sobre educação Dartagnan da Silva Zanela Muito se fala em educação em nossa sociedade hodierna. É trololó sobre educar pra cá, é trololó sobre "inducação" pra lá e, pra engrossar mais um pouco o angu, lá vamos nós também com um pouquinho de nhenhenhe sobre este assunto. Educar é um ato de guiamento, como a própria etimologia da palavra nos aponta (ex ducere - guiar para fora). Entretanto, não é um guiamento servil de nada a lugar nenhum, mas sim um guiamento que inicia com uma postura que emana do interior do indivíduo para assim ele próprio elevar-se de sua condição atual para um estado ideal que, por sua deixa, é edificado pelo próprio sujeito que singra pelas inúmeras experiências que a vida pode lhe propiciar e que sua vontade pode ponderar e apreender para si saberes de modo significativo. E sendo assim, não há mórbida possibilidade de se falar em educação de um indivíduo se este não está disposto a sair de sua alcova para iniciar a sua caminha de autoconhecimento através do grande espelho do humano, que nada mais é que o mundo a sua volta edificado pelos seus iguais e que aí está a muitas centúrias. Por isso, negar-se a aprender, recusar-se a se conhecer no aprendizado do conhecimento que nos é desconhecido, nada mais é que negar o trabalho edificado de toda a humanidade em nome do humano miserável que somos sem o saber cultivado que dá forma a sociedade em que vivemos atualmente que, mesmo com todos os seus defeitos, é algo que nós pouco conseguimos compreender apesar de desejarmos a todo custo negá-la. Só para ilustrar o que estamos tentando chamar a atenção, evocamos aqui as palavras de Stephen Kanitz, que em seu artigo "Estamos emburrecendo" (Revista Veja: Ed. Abril, edição 1814, ano 36, nº 31 de 06/08/2003) nos lembra que: "Se você ler três livros por mês, dos 20 aos 50 anos, serão 1.000 livros lidos numa vida, que nem chegam perto dos 40.000 publicados todo ano só no Brasil. Comparado com os 40 milhões de livros catalogados pelo mundo afora, mais 4 bilhões de home pages na internet, teses de doutorado, artigos e documentos espalhados por aí, provavelmente seu conhecimento não passa de 0,0000000000025% do total existente". Isso se realmente lermos a quantia sugerida pelo senhor Kanitz. Mas, como a média geral das pessoas de nossa sociedade (portadora ou não de um curso superior) se vangloria de nunca ter lido um só livro (quem o diga uma tese), temos o que temos: uma grande massa ignara pretensamente crítica e potencialmente falida em termos encefálicos. Por isso, se fosse dar algum conselho a qualquer um que realmente deseje guiar-se para montes mais elevados na escala epistemológica e assim realmente ampliar o horizonte de sua visão, daria apenas dois. Aprenda a ter o hábito da leitura. Cultive-o para assim cultivar a sua alma e, ao mesmo tempo, observe e compare tudo o que você lê, vê, experimenta, vivencia, presencia e, deste modo, construa várias hipóteses possíveis e impossíveis em sua mente. Você sabe fazer isso? Bem, se não, está mais do que na hora de aprender se você realmente deseja ser algo mais do que tão só um sujeito inerme que tem o seu destino determinado pela volúpia de terceiros que irão vê-los apenas como um meio para os seus fins esdrúxulos. Provavelmente você não passará a ser onipotente. Mas, com toda certeza deixará de ser impotente. E, para isso, você não precisa de um professor, apenas de boa vontade e nada mais.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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