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SEÇÃO
Crônicas
08/08/2006 - 16h02
O assalto
Sílvio Lancellotti
 

Saía do trabalho com o seu salariozinho em dinheiro. Tinha um batalhão de contas a pagar, a mulher o esperava, na maternidade, com a filha de três horas. Já passava das seis da tarde, começava a escurecer. Havia parado o seu Fusca numa ruela do bairro da sua empresa. Sentia-se tranqüilo, apesar da noite que caía, da iluminação precária da ruela - e das notas de Real bem comprimidas dentro de um saquinho de papel. Realizara aquele trajeto cinco vezes por semana, mês a mês, nos últimos sete anos. Jamais correra o risco de um assalto. Aliás, jamais soubera de qualquer assalto na ruela e na região.

Aproximou-se do Fusca e, então, intuiu. Da direção oposta caminhava um rapazote estranho, de gorro na cabeça. É hoje, pensou. E apressou o seu passo. Caso chegasse ao seu carro com alguns metros de vantagem, talvez pudesse acionar a partida e acelerar rumo a uma rota de fuga. Efetivamente, conseguiu abrir a porta. Apenas abrir, porém. Por cima do batente o rapazote lhe apontou a arma. Reagiu, instintivamente. Desferiu um chute na porta.

Percebeu a chama do tiro, escutou o berro do disparo. A porta, de todo modo, atingiu o ladrão, que desabou ao chão. Ensandecido, se lançou sobre o corpo caído e agarrou o rapazote pelas orelhas. Enquanto batia a sua cabeça no piso de terra, sentiu um calor no braço. Quando a dor o dominou, o rapazote já tinha desmaiado. Circunstantes despontaram de um botequim das imediações e o ajudaram a se levantar. Daí, em mais alguns minutos, a PM apareceu.

Só então percebeu que sangrava. A primeira bala havia resvalado na sua têmpora. A segunda se alojara num braço, entre o cotovelo e o ombro. A PM o levou a um pronto-socorro - e o apresentou como um herói verdadeiro:

- Ah, se todos reagissem, como o senhor...

Não se orgulhou da sua ação. E chorou.

Sequer saboreara as feições da filha...

Mas, viveria, para desfrutá-la...


Nota do Editor: Sílvio Lancellotti diplomou-se em Arquitetura. Trabalhou na revista Veja de 1967 até 1976, onde se tornou editor de Artes & Espetáculos. Passou por Vogue, agências de publicidade, foi redator-chefe de Istoé, colunista da Folha e do "Estadão", fez programas de gastronomia em várias emissoras de TV, virou comentarista de esportes da Band, Manchete e Record, até se fixar, em 2003, na ESPN. Trabalha, além da ESPN, na Reuters, na Flash, no portal Ig e na Viva São Paulo e é sócio da filha e do genro na Lancellotti Pizza Delivery - site de Internet www.lancellotti.com.br.

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