Acredito que deve chegar um tempo em que os pais – e os filhos – amadurecem, refletem, meditam, regulam o agir e o pensar. Diminuirão cobranças, surgirão mais afagos e acordos. Nesse tempo de cada um, as coisas, os presentes, os bens materiais, vão perdendo sentido nas datas marcadas. Haverá um instante em que não fará muita diferença receber ou não mais um par de sapatos, camisa ou perfume. Isso poderá, em momentos diferentes, valer até para todos os pais, mesmo os que têm poucos sapatos, camisas e não usam perfume. Nesse tempo que surge, o que os pais mais desejam é estabelecer gestos de entendimento com os filhos, pois são sabedores de que a diferença de idades influi na relação e modos de ver e encarar o mundo, mesmo que sejam queridos. Provedores, ditadores de limites, ajustadores de conduta, definidores de objetivos, chatos, de um lado e, rebeldes, transgressores, obedientes, abusados, tímidos, confusos ou meigos, do outro. Sempre sobrará seqüela, mesmo que de leve, nas relações de anos a fio, dia e noite. Falíveis que somos. Esses gestos de entendimento têm que ser cultivados sem mútua cobrança, mas com esperança. Servem como indicadores da maturidade que vai sendo cozinhada em meio à vida, amores, sonhos, realidades, no molho das dores, desenganos e do conhecimento de cada um sem pretensão da certeza, pois de nada valerá estar certo se isso não for entendido pelos outros. Pais e filhos, em meio a mundos paralelos em que vivem, devem sentir a necessidade da presença do outro, que seja para um dedo de prosa, refeição ligeira, troca de idéias, ou uma distração qualquer. Mudam os tempos, filhos e pais já não viverão uma relação de dependência, mas de complementaridade, de troca de afeições, de ajustes de sentimentos. Este domingo, Dia dos Pais - invento americano do começo do século passado (1919), quando Sonora Dodd resolveu homenagear seu pai, John Dodd - poderá ser um alegre momento de reflexão entre todos os que se tornaram atados para sempre pelos cordões do sangue e da benquerença. Elos tão fortes que superam faltas e falhas mútuas e enternecem os que sabem fazer da convivência em família a base geradora da energia e segurança necessárias para a lida do dia-a-dia, tão árdua que será menos dura se todos estiverem em harmonia.
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