O jornalista Villas-Bôas Corrêa disse, em sua coluna do Jornal do Brasil, que “o voto nulo é fuga, não é grito de indignação”. Pois é por isso mesmo que eu vou anular meu voto. Para fugir. Eu não sei de vocês, mas eu só não fugi até agora por que não deu. Se desse, já teria fugido. Para qualquer lugar, não importa muito para onde. Acho que até no Líbano a coisa está um pouco melhor. Lá, pelo menos, eles sabem que estão em guerra. Vivem atentos, sempre em alerta. Aqui não. A gente está andando aí, pelas ruas de São Paulo, olhando calmamente a paisagem e, de repente, passa um carro metralhando um banco e a gente nem sabe por quê. Ou então, um repórter está fazendo uma reportagem sobre seqüestros, e aparecem uns caras, seqüestram o repórter e depois ainda obrigam a maior rede de televisão do país e quarta maior rede do mundo a rodar um filminho alternativo em sua programação. Quer dizer, eu não vou votar por indignação. Indignado eu estava há alguns anos. Agora eu quero é fugir mesmo e pronto.

Ou então eu vou virar bandido. Virar bandido também me parece um bom negócio. Como é que a gente faz para virar bandido? Eu não tenho muita experiência na área, nunca consegui roubar nem um pirulito das Lojas Americanas. Mas eu aprendo rápido. Já assisti a muito filme policial, deu para sacar umas técnicas. Posso começar aí, ateando fogo nuns ônibus e fazendo uns assaltozinhos à toa. Uns postos de gasolina, umas padarias. Depois eu passava para as mansões. Com o tempo, talvez até arrumasse coragem para tentar um banco ou um carro forte.

Porque parece que eu estou sempre do lado errado. Pra você ver como é a coisa, eu já tive até carteirinha do PT. Eu votei no Lula. Eu votei no José Dirceu. Em todos esses caras. Vai ver agora eu estou do lado errado de novo, do lado dos honestos. E se a gente descobrir daqui uns tempos que esse era o lado errado? Que os bandidos é que estavam certos? Eu te falo uma coisa. Meu bisavô foi honesto e teve que sair fugido da Itália na época da 2ª Grande Guerra. Meu avô foi honesto e a única herança que ele deixou para a minha avó foi uma casinha sem forro. Meu pai foi honesto e vive mal e mal com uma aposentadoriazinha de professor. E os desonestos? Pombas, olha aí o que aconteceu com eles. Eles são deputados, senadores, fornecedores de ambulâncias. E, em sua grande maioria, milionários. Pois esse ano eu não vou votar em ninguém. Eu vou é aderir à bandidagem.

Ou então me candidatar a algum cargo, o que dá mais ou menos na mesma.