Artur de Carvalho      John Kerry.

Sempre quando chega essa época de eleições, eu fico pensando nos caras que vão perder. Será que os caras que vão perder sabem que vão perder, ou eles realmente acham que têm alguma chance? Porque tem uns caras que está lá, escrito na cara deles: EU VOU PERDER. Será que só eles que não vêem? Dá uma olhada aí nesses candidatos a deputado federal e estadual, e até em alguns candidatos a governador e presidente. É só olhar para a cara deles que a gente já sabe quem já está eleito, quem até que tem alguma chance, e eles: os que, inevitavelmente, vão perder. Os que vão perder têm alguma coisa que não deixa margem para dúvidas, é alguma coisa na voz, nas sobrancelhas, até na textura da pele. São perdedores natos, aqueles que vão ser esquecidos pela história. É, esquecidos. Porque ninguém se lembra dos perdedores. Os perdedores são seres que atingem seu auge durante uma disputa qualquer e, depois, pimba, são varridos para baixo do tapete e ninguém nunca mais se lembra nem do nome deles.

Por exemplo, há algum tempo aconteceram as eleições para a presidência dos Estados Unidos. A gente ficava o tempo inteiro ouvindo falar dos candidatos no rádio, na TV, na internet. Os jornais brasileiros colocavam os dois candidatos todos os dias no topo da primeira página. Parecia até que era a eleição para presidente do planeta inteiro. Era reportagem contando onde os candidatos tinham almoçado, quem eles tinham visitado, que filmes tinham assistido, que artistas estavam apoiando, essas coisas todas que a imprensa gosta de falar sobre os candidatos. Foram dois ou três meses só se falando dos caras. A gente entrava em qualquer boteco de esquina e tinha lá dois bêbados esfarrapados comentando sobre as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América do Norte. Aí, o George Bush ganhou.

Agora, me fala aí: qual era o nome do senador que disputou com ele?

Pois é isso que eu estou falando, a gente sabia o nome do cara na pontinha da língua há menos de dois anos, e agora, nada. Ninguém mais se lembra. Os perdedores desaparecem, viram fumaça e são praticamente banidos da história da civilização.

Não que isso seja mal. No caso de alguns desses candidatos que a gente está vendo aí, desfilarem durante o horário eleitoral, a gente deve mesmo é dar graças a deus.

Obs: O nome do senador que disputou com o Bush é John Kerry, esse aí, na ilustração.