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Opinião
26/08/2006 - 08h09
Ensinar e aprender
Sinesio Bacchetto
 

A atividade de aprender se sobrepõe à atividade de ensinar. E, ensinar era e ainda é o que se sabe fazer melhor, no sistema educacional, tanto da parte dos profissionais quanto das organizações da educação. É uma mudança sutil ainda não plenamente entendida. Quem ensinava bem supunha que educava bem.

O educador hoje tem outro papel. Educar não se esgota mais nas atividades de ensinar coisas, de fazer lições. Educar tornou-se um processo complexo de combinar atividades capazes de motivar o aprendizado, de fazer refletir. E, o aprendizado é essencialmente uma atividade de cada pessoa, seja criança, adolescente ou adulto.

Os "educandos" desse "sistema" têm cada vez mais dificuldades de abrirem suas potencialidades individuais para "ouvir lições", receber informações, saber de fatos históricos, refletir sobre o que é correto ou o que é errado, calcular a diferença entre valores humanos e valores não humanos...

"Eu estou na minha, só aprendo o que eu quero, só me interesso pelo que me dá gosto, e tudo tem que ser colorido, rápido, divertido. Eu quero tudo... Não tem para ninguém." Estas são expressões que refletem a individualidade exacerbada, o hedonismo consumista, a ansiedade sem rumo de educandos. Mas eles não estão totalmente errados, estão apenas sem saber como se situar num mundo que vibra e cintila através da televisão, de eventos coletivos exacerbados e dos demais meios de comunicação. O brilho, a velocidade, as oportunidades de prazer e de dispersão não lhes permitem situar-se, centrar-se, e escolher um papel significante, útil, prazeroso e digno no mundo.

Situar-se no mundo... é um resultado da reflexão que educa porque é assim que o educando toma consciência de si mesmo, dos outros, e da realidade que o envolve... é assim que definimos o que somos, o que queremos, reconhecemos onde estamos e se desejamos nos mover, no tempo e no espaço.

Alguns sistemas de ensino como um todo e algumas organizações educacionais, públicas ou privadas, ainda não se deram conta de que "ensinar coisas", transmitir informações, nem sempre provoca reflexões que educam.

Esse é o problema pedagógico de uma sociedade que se transformou tão rapidamente como a nossa.

Os processos que se dizem educacionais continuam presos aos sistemas burocráticos que os governos conseguiram construir (sistemas e modalidades de ensino), aos currículos mínimos que se pretendem universalmente necessários (servem para todos), aos tempos dos períodos letivos cuja adequação ninguém discute, aos equipamentos sociais tradicionais, escolas, creches, faculdades, universidades, nem sempre bem equipados e quase sempre desequipados.

Esses processos nem sempre são educativos.

Os profissionais do ensino, cobrados como agentes educacionais, ficam perdidos entre suas responsabilidades tradicionais e suas dificuldades atuais. Buscam equilibrar desempenhos para obter resultados sem a tranqüilidade de poder refletir e se situar na complexidade desse mundo em transformação alucinante. Além disso, todos ganham muito mal.

O educando, ávido de experiências novas, fica perdido e deslumbrado com tudo que brilha e gira ao seu redor. Desde os "games" mais inocentes até as drogas mais violentas, ele tem que assimilar informações e moldar comportamentos numa sociedade cujos valores ele ainda é incapaz de avaliar.

Estão todos correndo, correndo sem saber bem para onde...

E que "pedagogia" vamos nós adotar para contribuir na moldagem de um processo educativo que humaniza, construtor de identidades individuais e sociais, de vivências tranqüilas mas significativas? Mesmo que mais pobres, porém mais dignas.

Se voltássemos às questões radicais da existência humana, talvez conseguíssemos sair dessa dificuldade.

Se os processos educacionais partissem de análises descomprometidas com disciplinas organizadas burocraticamente, em tempos e etapas oficialmente determinadas, talvez acertássemos um pouco mais. Se aprofundássemos nossos diálogos no questionamento de quem somos, onde estamos e o que queremos, talvez educássemos melhor. A tarefa pedagógica que poderia nos ajudar a sair do labirinto do "ensinar" para o campo aberto do "aprender" seria a tarefa de ajustar essas questões radicais a programas e modalidades de processos educativos.

Trocaríamos a pressa de ter que "ensinar" o jovem pela disposição ouvi-lo e entendê-lo. Que tal um retorno à boa maiêutica socrática? Perguntar e ouvir.

Fácil não será, num país como o nosso, mas também não adianta nada ficarmos patinando nas nossas insolúveis dificuldades. Refletir sobre isso já seria um bom começo...


Nota do Editor: Sinesio Bacchetto é Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Politica da PUC - Rio de Janeiro e Filosofia pela Faculdade N. S. Medianeira - Nova Friburgo - RJ - 1962 . Consultor e especialista em educação, desenvolvimento organizacional e gestão pública. Ex-técnico coordenador de projetos nacionais e internacionais da Fundap - Fundação do Desenvolvimento Administrativo - Gov. de SP.

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