Uma indústria de peças ferroviárias, com fábrica em Osasco (Grande São Paulo), retrata bem a complicada situação do comércio exterior brasileiro. A fabricante de eixos em questão costumava exportar 60% de sua produção ao mercado internacional, mas esta porcentagem pode chegar a zero, colocando em risco sua sobrevivência e o emprego de seus 1.500 funcionários. O mau desempenho da empresa se deve à valorização do real perante o dólar - situação que afeta a totalidade dos exportadores brasileiros, do ramo madeireiro às indústrias têxtil e moveleira. Dados recentes do governo apontam um aumento de 19% nas importações brasileiras, contra 12,8% nas exportações. A disparidade comercial, para muitos especialistas, é o sinal de uma crise futura. Pior. De acordo com as previsões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ninguém deve esperar mudanças significativas no câmbio. Com o barateamento da moeda norte-americana, nossos preços deixam de ser bons aos olhos dos compradores internacionais, principalmente se comparados aos preços chineses, imbatíveis. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), por exemplo, apontam queda de 4,2% nas exportações de veículos entre janeiro e julho deste ano, em comparação ao mesmo período no ano passado. Mas o golpe foi mais forte no setor de calçados, que também vinha se firmando como um dos maiores responsáveis pela balança comercial positiva do Brasil. Com a concorrência da China, a cidade paulista de Franca, um dos pólos de calçados, perdeu sete mil empregos em poucos meses. Em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, foram eliminados 30 mil postos de trabalho. Isso porque a China, além de ter a sua moeda fixada em um patamar competitivo, tem custos trabalhistas baixíssimos, o que não acontece por aqui. Em um país emergente como o Brasil, não é possível manter a oferta de dólares tão alta, derrubando o valor do real. Para a exportação retomar seu fôlego, não há alternativa senão o governo administrar o câmbio e seguir criando políticas de estímulo aos produtores brasileiros. Caso contrário, a perigosa tendência pode acabar com o círculo virtuoso que as altas exportações começavam a fomentar no Brasil - ciclo formado por ingredientes como competitividade, produtividade e, o que é mais importante, geração de empregos. Nota do Editor: Antonio Carlos Casulari Roxo da Motta é mestre em Economia pela UFMG e coordenador do curso de Comércio Exterior do Centro Universitário FIEO (UNIFIEO), em Osasco.
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