Perguntaram a J. D. Rockefeller - o fundador da Standard Oil Co. - quais os melhores negócios do mundo. Homem muito bem sucedido no mundo dos negócios, dono de um poderoso monopólio, ele respondeu sem a menor hesitação: "Primeiro petróleo, depois petróleo e, finalmente, petróleo." Sem dúvida, era isto mesmo; mas as coisas mudaram e, nestes bicudos tempos pós-modernos, a seqüência dos mais lucrativos negócios é outra: Primeiro venda de tóxicos, depois contrabando d’armas e, finalmente, para o pasmo generalizado: tráfico d’animais silvestres, muito mais rendoso do que o tráfico d’escravas brancas, o que não significa dizer que a demanda por elas seja menor do que a por aqueles, mas sim que a oferta d’aqueles é muito menor do que a d’aquelas. Poder-se-ia objetar dizendo: "Mas esses outros três são negócios ilícitos?!" De fato, mas a indagação - tal como formulada - não especificou se era o caso de negócio lícito ou ilícito. E além disso, este tipo de negócio há muito superou aquele, ao menos no tocante ao volume de dinheiro envolvido. Poder-se-ia ponderar: "O petróleo pode não ser o melhor negócio do mundo, mas certamente está entre os melhores negócios lícitos do mundo!" Diríamos então: "Tens razão, mas a razão que tens é pouca, e a pouca que tens para nada serve". Vou sustentar a ousada tese de que um país possuir petróleo em abundância - antes de ser uma bênção como pensam os melhores estrategistas civis e militares - é uma maldição, e das mais malignas! Ex-Primeiro-Ministro de Israel e raposa política das mais felpudas, Golda Meir, parece que concordava com isso. Num de seus discursos, ela lembrou que Javé fez o povo de Israel perambular durante 40 anos pelo deserto até encontrar a Terra Prometida, porque estava à procura do único lugar no Oriente Médio em que não havia petróleo! É escusado dizer que Javé é Deus e Deus é sábio. Segue-se daí que Ele sabia muito bem para onde estava levando seu povo. Suponhamos que Israel tivesse petróleo em abundância... Para que teria ele investido tanto esforço humano e tanto dinheiro, para construir excelentes sistemas de irrigação de fazer inveja ao polígono das secas nordestino? Para tornar suas terras férteis e produzir suficientes alimentos? Ora, isto os petrodólares poderiam comprar facilmente, como de fato compram isto e muitas outras coisas - até frangos e soja do Brasil! - naqueles países árabes sentados em cima de grandes lençóis petrolíferos. Parece infalível: países pobres em que o ouro negro abunda estão condenados a ser monoculturas como a do ouro verde no Brasil dos tempos do café, por exemplo. Elites ricas, povos extremamente pobres. Além disso, regimes totalitários como a Arábia Saudita, o Irã, o Iraque, a Venezuela do caudilho caboclo Hugorila Chávez etc. E ainda tem mais: dos três países mais ricos do mundo - Estados Unidos, Alemanha e Japão - o primeiro está longe de ser auto-suficiente em petróleo (como o Brasil em junho de 2006 o é, só porque não cresceu o que era esperado), o segundo e o terceiro nem sequer o têm. E por falar nesse Trio Chuchu-Beleza... Nada como fazer uma guerra contra os Estados Unidos e perder. Aí então deixar de ser regime totalitário, para se transformar em próspera democracia. O facínora Hitler e o doce e decorativo Hiroíto, manipulado por gorilas nipônicos, jamais teriam imaginado tal coisa. APÊNDICE I John D. Rockefeller foi o patriarca do milionário clã dos Rockefeller, do qual o mais conhecido talvez seja Nelson, aquele que costumava dizer: The difficult I do right now, the impossible will take a little while (*). Depois de ter feito uma grande fortuna com o negócio do petróleo, John gostava de contar que quando ele imigrou da Escócia para os Estados Unidos, nos finais do século XIX, trazia no bolso duas moedas de um dólar. Segundo ele, gastou uma e poupou outra. Assim começou sua caminhada para a fortuna, sem saber que estava dando um exemplo histórico e "concreto" do vetusto provérbio chinês: Uma grande caminhada começa com um pequeno passo. Sem saber também que, tempos mais tarde, serviria de inspiração para Walt Disney construir sua personagem: o milionário e pão-duro Tio Patinhas que nadava em ouro (literalmente) e que não por mera coincidência também era escocês e tinha a mesma relíquia que John: a famosa moeda numero 1 do Tio Patinhas. APÊNDICE II Quando escrevi o artigo acima sobre a maldição do ouro negro, não conhecia o que pensava a Profª Drª Eliana Cardoso, Ph.D em Economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Tive uma grande satisfação quando da leitura de sua excelente entrevista em Veja, ano 39, nº 30 em que ela diz, em outras palavras, o mesmo que eu disse a respeito do assunto. Embora ela tenha estendido a maldição a países possuidores de muitas riquezas naturais e precariedades institucionais, o petróleo continua desempenhando para ela um papel primordial entre as maldições. Cito apenas uma passagem que diz respeito a um país da América do Sul que ultimamente vem mantendo relações carnais com o nosso: (...) Na vizinha Venezuela, notoriamente rica em petróleo, as instituições ficaram ainda mais fracas. O atual presidente, Hugo Chávez, tem usado os recursos do petróleo não apenas para fazer o que quer dentro do país, mas também para intervir na política dos países vizinhos. Os casos mais dramáticos, no entanto, acham-se entre os países africanos. [obs. minha: Hugorila já deu dinheiro até mesmo para um desfile de escola de samba no Rio de Janeiro!]. Abundância em petróleo, economia dependente de monocultura petrolífera, regime autoritário, debilidade das instituições, ausência de ética etc. são as palavras-chave da mencionada entrevista. Imperdível! (*) Tradução: "O difícil eu faço agora mesmo, o impossível vai levar um tempinho." Só não sei dizer se foi Nelson que inspirou o letrista de uma famosa canção da inigualável Billie Holiday - contendo idêntica sentença - ou se Nelson foi inspirado por ela. Mas há uma diferença: dita por Nelson Rockefeller a referida sentença expressa uma arrogância napoleônica - ’Impossible’ n’est pas français - porém, cantada por Billie expressa grande talento melódico. Creio que o grande Almirante Nelson - vencedor da batalha de Trafalgar em que foi aniquilada a Marinha de Napoleão - é quem poderia ter dito: ’Impossibe’ is not an Anglo-Saxon word. It came from Norman French. (’Impossível’ não é palavra anglo-saxônica. Veio do francês normando). Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
|