Tem hora que dá um branco na gente. Parece até meio sobrenatural. Está lá, o cara mais inteligente do mundo e, de repente, ele faz uma asneira que ninguém entende como é que pode. Nem ele mesmo. Uma vez, numa agência de propaganda que eu trabalhava, um amigo meu estava escrevendo um texto. Era um texto importante, encomendado para a campanha de um candidato. E o candidato queria que constasse lá, dos santinhos dele, que, se eleito, ele iria lutar para que as linhas aéreas chegassem até o aeroporto de determinada região. Pois o meu amigo, rapaz espertíssimo, formado na PUC, não pensou duas vezes. Tascou lá, no santinho do candidato: Fulano de tal vai lutar pela construção de novas linhas aéreas. Ficou bonito, um monte de gente leu, acharam que o meu amigo tinha acertado na mosca. Até que um guardinha que estava lá, num canto, perguntou baixinho, quase com medo de atrapalhar: - Gente, o que é uma linha aérea? - O quê, rapaz? - Uma linha aérea. O que é? - Uma linha aérea? Oras, uma linha aérea é... é o caminho que os aviões fazem, entende? - Bem, e como é que se CONSTRÓI uma linha aérea? - perguntou o guardinha. Todo mundo ficou quieto, olhando para o santinho. E, de repente, foi um deus nos acuda, uns ligando para as gráficas, outros já pensando numa outra frase para o santinho. Lutar pela CONSTRUÇÃO de linhas aéreas, como é que ninguém viu isso antes, meu deus do céu? E é assim mesmo. É que às vezes dá um branco. Pra você ver como essas coisas acontecem, ainda ontem outro amigo meu fez mais uma dessas bobagens homéricas. Eles precisavam subir com uns equipamentos até o quinto andar de um prédio, só que o elevador estava quebrado e os aparelhos não passavam pela escada. A solução encontrada foi que alguém subiria até lá, jogaria uma corda e puxaria as coisas por fora do prédio. Tudo preparado, mandaram esse meu amigo com a corda até o quinto andar. Ele subiu as escadas, chegou ao quinto andar com a língua de fora. Quando ele olhou pela janela, os caras aqui embaixo gritaram: - Joga a corda! O meu amigo não pensou duas vezes. Pegou o rolo de corda e jogou. Ficou todo mundo só olhando aquele rolo caindo, caindo, até, PLAFT, esparramar-se no meio da rua. O meu amigo só conseguiu dar um tapa na própria testa. Desceu as escadarias, veio até a rua, pegou o rolo de corda e só resmungou: - Ninguém fala nada. Ele subiu novamente os cinco andares, foi até a janela e, aí sim, segurando uma das pontas da corda, jogou o rolo para que os equipamentos pudessem ser amarrados e puxados lá para cima. É por causa de histórias como essas que eu entrava em pânico toda vez que as eleições se aproximavam. Eu ficava pensando: e se me der um branco na hora de votar? Agora, esse ano parece que eu já nem estou tão nervoso. De uma maneira ou outra, votar em branco é mesmo a minha opção.
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