No mês passado, fui convidado para patrono de uma turma de Administração de Empresas das Faculdades Integradas Rio Branco, em São Paulo. Pensando no que dizer àqueles jovens que começavam a vida profissional, me veio à mente um tema recorrente: as formas de se buscar a felicidade por meio da profissão. E elaborando meu pronunciamento percebi o quão tortuoso pode ser esse caminho se partirmos do princípio de que a realização profissional "vem antes" da felicidade pessoal e que só lá no fim da nossa carreira, já aposentados, seremos felizes. Assim, decidi reproduzir neste artigo alguns trechos do discurso que fiz àqueles formandos, porque acredito que são muitos os profissionais já estabelecidos no mercado que ainda esperam encerrar a carreira para "serem felizes". Como patrono, sinto-me o padrinho de todos vocês. E como padrinho, e também muito mais experiente e vivido, sinto-me à vontade para dar-lhes um conselho de vida: sejam felizes profissionalmente. Ser feliz profissionalmente depende de uma fórmula bem simples: fazer o que se gosta e ser pago para isso. Todos nós fazemos muitas coisas das quais gostamos, mas, na maior parte dos casos, temos que pagar para isso. Feliz na profissão é quem ganha para fazer o que gosta. Para isso, é necessário compreender e aceitar que a felicidade não é um fim, mas um meio. E essa é a doença de nossa sociedade, uma doença mental, uma espécie de psicose coletiva, que, mais do que nos convencer, nos condicionou a aceitar a idéia de que a felicidade é algo que só se pode conquistar após grandes provações. Desde pequeninos, um pouco mais do que bebês, nos incutem esse conceito. As histórias infantis que povoam nossa imaginação - Branca de Neve, a Gata Borralheira, Pinóquio e tantas outras - nos mostram a felicidade como algo que se alcança após grandes sofrimentos e privações. O mesmo repete-se nos romances, teatro e novelas. Até mesmo as religiões nos prometem uma vida de bem-aventuranças e prazeres inauditos após uma dura trilha de privações e sofrimento. O tema é recorrente: a felicidade após a provação. Quando olhamos para o mundo profissional e do trabalho, os conceitos se repetem. Trabalho é encarado como dever; dever é renúncia, é fazer o que se deve, ainda que se deteste fazê-lo; trabalho é coisa séria, não se ri no trabalho. O que precisamos ter em mente é que a felicidade é um meio e não um fim. Nada de fazer algo agora para ser feliz depois. A felicidade é para ser buscada como o estado do hoje e agora! Ou seja, o trabalho deve ser diversão. como eu disse no início: fazer o que gosta e ser pago para isso. Esta deve ser a sua prioridade de vida! Quem faz o que gosta trabalha sem estresse, diverte-se, faz com gosto e bem feito. E exatamente porque faz com gosto e bem feito, é bem sucedido. Vocês são administradores, o mundo do trabalho abre para vocês um leque incrivelmente amplo de atividades possíveis. Vocês podem atuar na área comercial, em vendas, em marketing, em comunicação, promoção e propaganda, pesquisa de mercado, finanças, controladoria, produção, logística, comércio internacional etc. Passaríamos horas enumerando os possíveis campos de atuação de um administrador no que se refere às suas funções. Se a isso juntarmos os possíveis ramos empresariais, bancos, seguradoras, empresas industriais manufatureiras, serviços, hospitais, hotelaria, varejo, consultorias e tantas outras, essa lista explodirá em milhares de possibilidades. Meu conselho: escolham a atividade e o ramo que os fará profissionalmente felizes, dentro do conceito de fazer o que gosta e ser pago para isso. Com esta fórmula simples, vocês seguramente serão bem-sucedidos. Nunca se perguntem qual a atividade que lhes dará mais dinheiro. Todas elas são boas e lhes darão as recompensas esperadas, desde que façam bem feito o que tem de ser feito, com prazer e sem estresse. Na minha carreira de quase 50 anos de atividades lidando com pessoas, deparei-me sempre com esta verdade: todos os profissionais bem sucedidos são aqueles que derivam prazer do seu trabalho, todos os de sucesso duvidoso são aqueles que anseiam pelo fim de semana, para, como eles mesmos dizem, "relaxar e esquecer dos problemas da firma". Os infelizes profissionais são aqueles que sonham com a aposentadoria para, como costumam afirmar, "livrar-se das obrigações e começar a viver", aqueles que fizeram da felicidade um fim, algo a conquistar no futuro e não agora, já! Minha mensagem é: consultem os seus corações, revejam as realizações de suas vidas, aquelas coisas que vocês fizeram, sabem que foram bem feitas e têm orgulho delas. Suas realizações, associadas ao vínculo emocional de ter orgulho de havê-las realizado, são as melhores pistas para definir o que lhes dá prazer. Escolham a profissão, ou atividade, que mais seja condizente com esses feitos. Vou me permitir um segundo conselho: aceitem suas limitações e sejam excelentes naquilo em que vocês são bons, porque esta é outra síndrome psicótica de nossa sociedade: o desejo de ser perfeito, a ânsia de corrigir-se. Nunca soube de uma orientadora de escola que tivesse chamado os pais para dizer algo do tipo: "seu filho é muito bom em português e se vocês colocarem um professor particular ele poderá ir muito longe na profissão de escritor ou jornalista!". Não!, Isso nunca! O mais provável é que os pais sejam chamados para ouvir uma frase do tipo: "seu filho vai muito mal em matemática. Ele vai ficar em recuperação e eu acho bom colocar um professor particular para ele". Isso demonstra como abandonamos nossas qualidades inatas, pois acreditamos que não é necessário cuidar delas, porque já somos bons nessa área, para dedicarmo-nos a aprimorar os pontos fracos. Gastamos uma energia enorme para elevar as deficiências até o nível médio. As qualidades, abandonadas, permanecem no nível médio e criamos um "bando de medíocres na acepção original da palavra". O que eu posso dizer é: "descubram suas qualidades e façam delas a chave para o seu sucesso. Dediquem toda sua energia em melhorar aquilo no que vocês já são bons e não desperdicem energia nas suas deficiências, aprendam a conviver com suas limitações". Claro que sempre podemos e devemos nos aprimorar, mas saibam dosar a sua energia. Ao explorar seus pontos fortes vocês estarão trilhando o caminho da felicidade. Estarão utilizando os dons que lhes são naturais, o que não lhes causa esforço nem estresse. Com isso, tendem a fazer bem feito e serem bem sucedidos. Nota do Editor: Nahid Chicani é consultor sênior e sócio-diretor da Transearch Brasil, empresa em que atua desde 2001 na seleção de executivos. Construiu uma carreira de 43 anos na GE Brasil, na qual foi vice-presidente de Recursos Humanos, Comunicações, Relações Governamentais e Desenvolvimento de Negócios de Aparelhos Domésticos e Sistemas Médicos para a América Latina.
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