Quinta-feira comemorou-se mais um aniversário da Independência do Brasil. Já lá se vão 184 anos desde que D. Pedro I, "às margens do riacho Ipiranga, resolveu cortar os laços com Portugal". O mais estranho nessa história é que esse mesmo D. Pedro I, Imperador do Brasil, foi, quatro anos depois, escolhido Rei de Portugal, ainda que pelo período mínimo de sete dias, entre abril e maio de 1826, com o nome de D. Pedro IV. Ora, se era para romper os laços, como é que D. Pedro I veio a ser, tempos após, Rei do país que havia perdido a sua mais importante colônia? Coisas de família real, os Orleans e Bragança que mandavam aqui e lá. Será que isso mudou muito? Agora, nesta antevéspera de uma nova eleição, inclusive para presidente da República, uma espécie de "rei" para grande parte da população, exatamente a que vota agradecida por favores recebidos, pois não possui o menor sentimento de cidadania, não conhece os direitos que tem, analfabeta que é. Não falo do analfabeto político a que se referia Bertold Brecht e é comumente citado, mas do dito analfabeto funcional, o que apenas sabe escrever o seu nome e não possui, pois estudo não teve, capacidade de analisar criticamente virtudes e defeitos de candidatos. Dessa forma, o país que todos desejamos independente, só o será por sorte, pois o fado não concede prazos para quem não se qualifica aos humores do mundo, que nos cobra desempenho, responsabilidade e atitude. É patético ouvir frases que justificam votos a pessoas sabidamente comprometidas com falcatruas ou incompetentes. "Todos são iguais", "farinha do mesmo saco" e outros que tais, são exclamações de quem não tem tempo a perder com a escolha consciente de candidatos ou, infelizmente, não sabe mesmo escolher e vai à onda. Ao ver as paradas militares, os pronunciamentos de políticos e a cegueira de grande parte da imprensa, só nos resta exercer, mesmo com indignação, os votos que somos obrigados a dar. O fato de ser obrigatório, como forma de consolidar o hábito democrático de votar, transformou-se em pesadelo para quem não acredita mais na ordem que está vigendo e não sabe qual a melhor saída que nos tire da opção da sorte e que nos conduza não à morte, mas à vida.
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