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Opinião
14/09/2006 - 16h59
Ainda Collor, Fidel e o embargo
Ipojuca Pontes - MSM
 

Com a recente declaração de apoio a Lula da Silva, proclamando este como "candidato do nordestino à presidência", descobri que Collor de Mello, traindo os seus antigos eleitores, traz no inconsciente a velha nostalgia do populismo esquerdista. Explico-me melhor: em geral, os políticos da "direita" no Brasil, tais como, por exemplo, Marco Maciel, Francisco Dornelles e o próprio Collor, quem sabe por "flexibilidade ideológica", têm a visão do poder político como instrumento de protecionismo econômico, do mais nítido pendor socialista. Eles não compreendem bulhufas do liberalismo ou das sociedades de mercado, nunca estudaram a sério Adam Smith, Ludwig von Mises ou F. A. Hayek, ou sequer examinaram com a devida atenção o funcionamento das economias capitalistas competitivas, que retiraram a humanidade da pré-história. Antes, ao que parece, acreditam piamente no planejamento econômico dos tecnocratas e no feitiço da engenharia social.

Na ordem prática das coisas, e só para que o leitor faça uma idéia da contradição em foco: uma vez no poder, Collor de Mello, eleito com o suposto compromisso de implantar no País os postulados de uma economia de livre mercado (quem sabe, de fundo tatcheriano), ao invés de nomear Roberto Campos para a pasta da Fazenda, como era de se esperar, levou para o cargo a Zélia Cardoso de Mello, aluna do mais entranhado núcleo do pensamento econômico estruturalista do País, a velha Unicamp (Universidade de Campinas) de São Paulo. Resultado: a primeira medida da mulher, no epicentro do poder, foi convencer Collor de Mello a assinar o bloqueio da poupança, uma medida intervencionista jamais concebida pelo pior ou o mais obtuso dos liberais.

De fato, o esquerdismo lulista de Collor, que agora ressurge em meio ao assombro geral, não é nenhuma novidade para observadores atentos. Em artigo anterior, mencionei o fato do ex-presidente ter-se colocado, durante o breve mandato, como o mais surpreendente defensor de Fidel Castro e sua ditadura sangrenta, aderindo à política externa do "não-alinhamento" traçada pelo Itamaraty "vermelho", de franca hostilidade aos Estados Unidos. Com efeito, no governo, para firmar uma política externa "independente" e, mais que isso, "engajada", Collor de Mello: 1) recebeu, na sua posse, o ditador Castro com as honras de um chefe de Estado democrático; 2) assinou tratados comerciais e acordos de cooperação "científica, técnica e tecnológica" infensos aos interesses nacionais; 3) autorizou a compra (por US$ 150 milhões) de lote das inócuas vacinas cubanas; 4) distinguiu em audiência privada o ditador cubano na Cúpula Ibero-americana realizada em julho de 1991, em Guadalajara, México; 5) e deixou-se inebriar pelas palavras sedutoras de Fidel, durante o convescote da Rio 92, que o escalava como "futuro líder da integração dos países latino-americanos", papel hoje encabeçado a peso de ouro pelo "bolivariano" Hugo Chávez (enquanto, paralelamente, por debaixo do pano, Lula, Zé Dirceu e o PT, parceiros de Fidel no Foro de São Paulo, cavavam fundo o buraco negro do impeachment).

Pondo em prática a política do "não-alinhamento", Collor mostrou logo a que veio: durante as assembléias da ONU, em 1991/92, permitiu que o Itamaraty "vermelho" votasse contra o justo embargo imposto a Cuba pelos Estados Unidos e se manifestasse contra a viabilização da Lei Torricelli, que tinha por objetivo proibir as empresas americanas instaladas nos países estrangeiros de fazer negócios com a ilha. (Convém esclarecer que a Lei Helms-Burton - a Cuban Liberty and Democracy Act -, assinada por Bill Clinton em março de 1996, que exigia a indenização ou a devolução das propriedades dos exilados cubanos e das empresas americanas expropriadas pelo assalto revolucionário de Fidel, na certa só contou com a "discórdia moral" de Collor, visto que, à época, o presidente deposto morava - pura ironia - nos EUA).

Aqui, é preciso fazer uma pausa para tecer breve comentário sobre o embargo americano a Cuba, o bode expiatório que Fidel, um perito na arte de manipular, insiste em chamar de "bloqueio": no histórico, já em outubro de 1960, auge da Guerra Fria, pressentindo os pendores comunistas de Castro, o presidente Eisenhower, em represália à expropriação das empresas norte-americanas, resolveu proibir (com algumas exceções) a exportação dos produtos "ianques" para a ilha. A reação do presidente americano foi considerada tardia porque, desde maio de 1959, Fidel havia promulgado a lei da Reforma Agrária cubana, encampando, sem nenhuma indenização, além das terras de propriedade dos americanos e fazendeiros nativos, as refinarias de petróleo e usinas de açúcar, para não falar nas companhias de eletricidade, de telefonia, bancos, hotéis, prédios, casas e a totalidade dos bens dos empresários cubanos - como demonstra com fidelidade A Cidade Perdida, o filme de Andy Garcia sabotado pelo comunismo internacional.

Na prática, a manipulação em torno do embargo imposto pelos americanos serve como uma luva para Fidel justificar a baixa produtividade do sistema, a desorganização administrativa, o terror político, os "apagons", a falta de produtos nas prateleiras e, sobretudo, manter aceso o ódio do povo cubano ao "imperialismo ianque" - instrumento vital para a perpetuação do castro-comunismo. A coisa chegou a tal ponto que Fidel, temendo uma séria negociação em torno da necessária indenização dos bens americanos expropriados, apresentou há tempos, depois de doida contabilidade, uma fatura de US$ 121 bilhões "por danos econômicos causados pelo bloqueio e pela política hostil dos EUA contra Cuba".

Bem, ia escrever sobre a possível integração de Collor no arraial político de Lula, caso o presidente deposto venha a ser eleito senador pelas Alagoas, mas acabou o espaço. Fica para depois.


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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