Há mais de 20 anos, o francês Pierre Chaunu, PhD em História Moderna, já alertava o mundo para o grande perigo do controle exagerado da natalidade. Hoje em dia, como o número de trabalhadores está ficando menor do que o número de aposentados, vários países da Europa começam a dar incentivos financeiros às famílias que tiverem mais de dois filhos. Todos os países europeus têm um índice inferior a 2,1 filhos por mulher - que é o mínimo estabelecido para que uma população se mantenha estável. Como conseqüência desse problema social, o número de velhos passa a superar o de jovens, a previdência social entra em crise, começa a faltar mão-de-obra e contribuintes para manter os aposentados. Essa transformação também já pode ser sentida no Brasil. De 5,4 filhos por mulher, em 1965, a taxa de natalidade caiu para 2,0 - evidenciando o envelhecimento acelerado da população. Quando comparado ao Japão, onde o número de habitantes por quilômetro quadrado é 17 vezes maior (328 hab/km² contra 19 hab/km²), o Brasil revela que a fome, a doença e o analfabetismo que imperam aqui, não tem nada a ver com a densidade populacional de uma nação. Portanto, é falso afirmar que a limitação da natalidade, a todo custo, é condição essencial para o desenvolvimento do país. Muitos países desenvolvidos têm alta densidade demográfica: Alemanha (229 hab/km²), Israel (280), Itália (189), Inglaterra (240), Suíça (176), Bélgica (330). Em 1998, o "Pontifício Conselho para a Família", do Vaticano, publicou um documento onde diz que há 51 países que mal preenchem os claros deixados pelos óbitos e há outros 15 que estão em decréscimo absoluto de população. A Igreja nunca concordou com esse controle drástico da natalidade. Ao falar do "dom do filho", o Catecismo da Igreja diz que "a Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais" (CIC, 2373; GS, 50,2). A Igreja recomenda, então, a "paternidade responsável". Isto é, cada casal deve ter todos os filhos que puder criar com dignidade. Quando da necessidade de se limitar um novo nascimento, a Igreja recomenda o método natural Billings - ou da ovulação -, por considerar que é imoral impedir artificialmente a concepção. O papa Paulo VI disse na Humanae vitae: "É de excluir como intrinsecamente desonesta toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou na sua realização, ou no desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar a procriação impossível" (HV, 14). Vale ressaltar que a Igreja rejeita totalmente a prática da esterilização do homem (vasectomia) ou da mulher (laqueadura), por serem graves mutilações do ser humano. Como alertou Chaunu, aos poucos, o mundo começa a perceber que entrou numa "implosão demográfica" de conseqüências imprevisíveis. Uma geração que não mais quer ter filhos é, sem dúvida, uma geração doente. Essa foi, inclusive, uma das causas da queda do império Romano. O problema do mundo não é falta de alimento e nem gente demais. É a falta de caridade. O mundo carece do que o papa João Paulo II tanto pediu: a globalização da solidariedade. Enquanto isso não acontecer, de nada adiantará impedir a vida de existir. É importante dar soluções certas para os problemas; não se trata, como disse o papa Paulo VI , "de diminuir os comensais na mesa, mas de aumentar a comida e distribuí-la para todos". Nota do Editor: Prof. Felipe Aquino é teólogo, doutor em Física, escritor e apresentador dos programas Escola da Fé e Trocando idéias, na TV Canção Nova.
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