Texto, texto, texto. A Web é o paraíso da palavra. É nossa enciclopédia, biblioteca, revista semanal. Algum problema? Pelo contrário - a Web surgiu desta maneira, e muito de sua força ainda reside na informação como palavra. Eu disse ainda. Busque uma definição para Web e encontrará várias, mas todas giram em torno de um ponto: é nela que reside o potencial da imagem na internet; é ela a interface gráfica da Rede. Não há como escapar. A Web é cruel com quem aposta na força da força solitária da palavra - não há site que sobreviva sem um impacto visual, todos sabem. Em nenhuma outra mídia o clichê ’a imagem vale mais que mil palavras’ foi tão verdadeiro. E olhe que estou falando apenas em layout, em ilustração, em fotografia - ainda não cheguei ao vídeo. Se a imagem é capaz de levar vários recados em um só pacote, o vídeo é a maior concentração de informações por pixel quadrado. O vídeo dá conta do recado, e com uma capacidade de persuasão que a palavra não alcança. Não adianta espernear, porque é um caminho sem volta. Na Web, a palavra está fadada a desempenhar o papel de coadjuvante da informação. Uma coadjuvante de luxo, mas, ainda assim, coadjuvante. Eu amo a palavra. Sou, antes de tudo, um redator. Mas aprendi, ao longo de todo este tempo de trabalho com Web, que a palavra precisa se enamorar da imagem. Muito mais do que já acontece na mídia impressa. Falou-se muito, nos últimos anos, em convergência de mídias. Que a Web iria integrar texto, imagem, áudio e vídeo. Como a banda larga ainda era insípida no mundo inteiro e a história não caminhava, a tal convergência perigou não acontecer. Mas, de três anos para cá, a realidade mudou. O You Tube, site gratuito com vídeos postados por qualquer um que se disponha a dividir o que tem, é apenas a ponta do iceberg. Demonstra que o interesse do internauta mudou, que ele evoluiu na forma de consumir informação na Web. E que, com a explosão da banda larga, ele agora pode - e quer - mais. Como recuperar a palavra em um ambiente *realmente* multimídia como será a Web daqui por diante? O redator irá sobreviver? Na dúvida, como profissionais de Comunicação, precisamos entender que nossa matéria-prima é a Informação, seja lá qual for o seu formato. Você sabe que não é preciso entender de vídeo para trabalhar um uma revista. Mas, na Web, limitar a experiência - e interesse - à palavra pode ser arriscado. O perigo não é individual, mas diz respeito à classe como um todo. O novo profissional de Comunicação, aquele está saindo das universidades, precisa ter noção de que o mercado de mídia digital espera muito mais dele. Para os que já estão no mercado, temos uma vantagem, porque já experimentamos a Informação em um formato ou mais. Basta não criar resistência e, antes de tudo, ajudar na conscientização dos que estão chegando. Não perca tempo imaginando se a palavra precisa dar uma volta por cima ou se a Web irá virar o crepúsculo do texto, até porque não é verdade. Por muito tempo ela dividirá as atenções com o vídeo, e é bastante provável que nunca venha a existir uma Web sem informação textual. Enfim, invista seu tempo entendendo como funciona esta tal convergência de mídias e você estará acrescentando muito mais ao mercado! Nota do Editor: Bruno Rodrigues é autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, "Webwriting - Pensando o texto para mídia digital". Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ’Webwriting’ do ’Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.
|