Dá uma sensação esquisita ver e ouvir candidatos a deputado e até a senador falando no tempo limitado da propaganda eleitoral gratuita na televisão como se estivessem pleiteando uma função de despachante, estafeta ou algo parecido. Na realidade, há uma parcela significativa de candidatos que não tem realmente nenhuma mensagem, além de serem desconhecidos da maioria dos eleitores; são os que se intitulam assim (Zé do Box) ou assado (Maria Parteira), colocando-se à disposição da comunidade em que atuam. E estou falando de candidatos pelo Brasil afora, pois atrevo-me a sair catando essas preciosidades por aí. Faltam duas semanas para as eleições, as esquinas estão cheias de bandeiras acenadas por "militantes" pagos, muros são pichados por todas as cidades, carros são adesivados e outdoors dizem das maravilhas que são os tais zés e marias. E assim, em meio a esse engenho, o Brasil mostra a sua cara, os candidatos, com exceções, é claro, são o que plantamos e colhemos em nosso tímido exercício de cidadania, nossa indignação capenga e na inapetência da maioria da população com o destino do país. Em 1º de outubro, o Brasil informatizado, "coisa de primeiro mundo", totalizará as urnas eletrônicas e dirá rapidamente a nós e ao mundo o nome dos vencedores aos cargos majoritários, os que passarão ao segundo turno e os dos novos e velhos representantes nas assembléias legislativas e Congresso Nacional. E as Comissões Parlamentares de Inquéritos, as tais CPIs, ainda por terminar, arrastar-se-ão, os projetos prontos para a aprovação pela Câmara e Senado como "redenção" do país passarão para a próxima legislatura. O tempo que sobrará no ano que já finda será gasto com os segundos turnos, onde e se acontecerem, para diplomação dos eleitos, arranjos, troca de partidos, limpeza de gavetas pelos derrotados, composição de ministérios, secretariados, estatais, descontingenciamento de verbas, confecção, distribuição e leitura de milhares de currículos de candidatos aos milhares de cargos comissionados e funções gratificadas, esse time que, meio desconhecido dos ocupantes do segundo e terceiro escalões, tece toda a trama burocrática brasileira, tão complexa quanto modorrenta, embora cheia de computadores e carimbos. E o que importa é que, dentro de pouco tempo, o programa eleitoral acabará, muitos muros continuarão pichados, o campeonato nacional entrará na fase decisiva, as compras de Natal ficarão aguardando a liberação do 13º salário. No próximo ano, teremos os jogos pan-americanos no Rio com a pompa e circunstância e a segurança pública cuidará de todos, que alegres e felizes poderemos comemorar a passagem do ano e nos prepararmos para o carnaval, pois ninguém é de ferro.
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