De repente é preciso gritar chega. Chega de promessas. Senhores políticos, parem de fazer juras! O povo não confia mais em vocês. Chega de ouvir "Vossa Excelência". Ninguém agüenta mais tanta cretinice e tanta farsa por detrás de uma forma de tratamento nobre. Chega desses jargões novos e ridículos. "Ilação" quase ninguém conhecia e já se tornou insuportável; "arapongagem" causa arrepios; "blindar o presidente" sugere outras armações em andamento; "manter a governabilidade" indica que a Constituição não basta e que é preciso novos paladinos da ética para segurar heroicamente o estado de direito. Chega de desmentidos. Já que nada fica mesmo escondido, os probos políticos brasileiros podiam poupar a nação do vexame de serem pegos na mentira e com a mão na botija. Nada mais constrangedor do que ver as secretárias, os motoristas e as amantes contando os podres dos seus senhores. Chega de propor "Vamos passar o Brasil a limpo". Só se passa um país a limpo com cidadania, escolas e senso crítico. Não se lava a imundície de um povo com o judiciário, legislativo e executivo reféns das oligarquias. Não existe moralidade com uma distribuição de renda tão perversa. Não se promove o bem nacional priorizando o capital internacional. Chega das ações espetaculares da Polícia Federal. Pirotecnias policialescas dão a falsa sensação de que se acabou com a impunidade, mas não revertem a decomposição moral do país. Os mais poderosos continuam se locupletando. A gatunagem corre frouxa com seus eufemismos: "agrado", "caixa-dois", "pedágio", "por-fora", "molhar a mão" e outros. Os jornais deveriam estampar, por alguns meses, uma só manchete: chega! Os autofalantes das quermesses pobres só precisariam repetir chega! Seria proveitoso, se as largas avenidas de Brasília ficassem pontilhadas de outdoors, com uma só palavra: chega! Oxalá, as Câmaras de Vereadores, Assembléias Legislativas e Congresso Nacional recebessem milhões de cartas e mensagens eletrônicas com uma só expressão: chega! Ah, se o povo lotasse os estádios para gritar chega até ficar rouco. Talvez, o Florão da América criasse vergonha na cara. Soli Deo Gloria Fonte: www.ricardogondim.com.br.
|