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Opinião
29/09/2006 - 13h22
Eleições, escola e politização
João Luís Almeida Machado
 

"Em meu governo, a prioridade é a educação. Para que possamos crescer temos que investir em educação. Teremos a melhor educação do país e, até mesmo do mundo, em meu futuro governo." Praticamente todos os políticos assumem a educação como prioridade em seus discursos de campanha. Há, no entanto, uma grandiosa diferença entre o que é apregoado na propaganda política gratuita na TV e nos comícios e o que vemos em nossas escolas e redes públicas de ensino. Não se pode negar que algumas mudanças aconteceram, mas será que foram realmente efetivas para transformar o perfil do estudante que estamos formando?

A adoção de novas tecnologias, a modernização do discurso, o investimento em cursos de aperfeiçoamento e atualização do magistério, as provas nacionais que avaliam o desempenho do ensino em seus vários níveis, o programa universidade para todos e tantos outros projetos desenvolvidos pelo atual governo e pela gestão anterior efetivaram, de fato, transformações capazes de levar ao surgimento de um estudante que lê, escreve, compreende e articula-se melhor?

Ou será que esse propósito não é a prioridade da educação brasileira? Para que tantos computadores, exames, bolsas de estudo, cursos para os professores e até mesmo escolas recém-construídas se os nossos alunos continuam escrevendo errado, apresentando dificuldades na leitura, interpretando mal, tendo resultados pífios em matemática (ciências, história, geografia etc.) ou, ainda pior, sendo incapazes de entender a realidade em que se inserem a ponto de não compreender o que significam escândalos como o mensalão ou a máfia dos sanguessugas?

O professor tem que estimular o debate e propiciar a politização de seus estudantes. A perpetuação de um sistema educacional que não ensina as nossas crianças a ler, escrever, interpretar e articular suas idéias é, talvez, uma das chagas que propagam em nosso país males como a corrupção, a violência e a miséria.

É corrente em algumas redes de ensino a idéia de que os professores fingem que ensinam, os alunos simulam a aprendizagem e os resultados falseiam a realidade. A conseqüência mais evidente desse autêntico drama brasileiro é que os votos da população menos (ou não) esclarecida acabam dando sobrevida a políticos que não têm a mínima intenção de aperfeiçoar ou melhorar a educação ou qualquer outra instância da realidade nacional.

A educação é momento primordial de esclarecimento, mas não apenas dos conhecimentos previstos no currículo oficial através de cada disciplina. Os anos de chumbo da ditadura ajudaram a silenciar nossa consciência crítica, a televisão que esvazia os nossos discursos e tolhe o diálogo nos imobiliza e isola, as mentiras e omissões dos políticos se repetem e, de tão freqüentes e impunes, nos insensibilizam.

Se pensarmos a educação como o instrumento da mudança, da renovação e da ética, na realidade temos um sistema educacional que repete, promove e valida o jogo político em que estamos inseridos. Os professores, teoricamente os maiores responsáveis pela configuração de uma realidade cidadã e digna, sucumbem perante as atribuições do cotidiano. Não há tempo para refletir, discutir ou debater a realidade do país. Temos provas a corrigir, aulas para preparar, diários que devem ser atualizados e reuniões, muitas reuniões.

A tarefa de educar politicamente nossas novas gerações não é - e, em curto prazo, não parece ser - um objetivo das classes dirigentes ou mesmo dos próprios educadores. Desprovidos de poder de crítica, como poderemos distinguir o joio do trigo e definir os rumos de uma cidadania ética e digna para o nosso país?

Nem mesmo os próprios professores estão sendo preparados para atuar na sociedade de forma questionadora, incisiva e participativa como deveriam. As universidades que preparam as novas gerações de educadores do Brasil estão preocupadas apenas em "conteudizar" os seus formandos e torná-los aptos a entrar no mercado de trabalho, para que demonstrem suas competências e habilidades...

O exercício da troca de idéias, da percepção da diferença de pensamentos e da pluralidade de alternativas para a solução de problemas deve começar desde cedo em nossas escolas. A educação deve ser o instrumento que realmente nos permita pensar a realidade nacional e nos posicionar quanto a ela. Mas, o que podemos esperar de nossa educação se nem mesmo seus artífices, os professores, demonstram a articulação, a clareza, o senso crítico e a propensão ao debate que deles se espera?

Nossos estudantes aprendem muito mais a partir de nossas palavras se elas são acompanhadas de atitudes que comprovem a necessária coerência entre teoria e prática que tanto advogamos. Não adianta nada dizer que temos que empreender mudanças e repensar a nação se nossas atitudes não demonstram essa busca ou crença. Se você quer realmente mudar o país não apenas diga ou pense. Precisamos de mais ação e menos discursos.

Somos seres políticos, como preconizaram os gregos há tanto tempo. Mesmo quando agimos apoliticamente estamos promovendo uma prática que tem conseqüências para todos. Se votamos nulo ou em branco estamos propiciando a vitória daqueles que lideram as corridas eleitorais (pessoas em relação às quais, várias vezes, temos muitas reservas e que acabaram motivando essa nossa escolha ao votarmos). A educação tem que assumir-se política, tanto no que se refere aos professores, que não podem silenciar e eximir-se quanto a seus posicionamentos e idéias quanto através de seu currículo, que preveja a politização dos estudantes nas disciplinas e aulas.


Nota do Editor: João Luís Almeida Machado é Editor do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br), mestre em Educação, Arte e História da Cultura

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