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Crônicas
01/10/2006 - 07h16
Meu primeiro voto
Luiz Guerra - Agência Carta Maior
 

Votei pela primeira vez em meia-meia, aos dezoito de idade, dois anos depois do golpe militar.

Para um filhote de socialdemocrata e neto postiço de um pecebão tarefeiro, não podia ser mesmo nada agradável estrear como eleitor republicano naquelas circunstâncias, quaisquer que fossem as ilusões ou o oportunismo de uma turma de políticos que ainda não entendera bem a coisa.

Não sei todo mundo; mas pelo menos entre os janguistas que tentavam fazer minha cabeça aqui em Marechal Hermes a grande ordem era anular o voto.

Fui mais longe. Leitor romântico e apressado de Bakunin e Malatesta desde os quatorze de idade, ordenei a mim mesmo não apenas anular, mas ainda esculhambar o meu voto. Tinha em mente, é verdade, desautorizar toda aquela empáfia (merecem, merecem a palavra) dos milicos, não espezinhar a instituição do sufrágio universal.

Almocei e tomei umas biritas na casa de um amigo, onde fiz um pequeno discurso sobre o conceito de desobediência civil em Henry David Thoreau — sem ter lido uma linha sequer do famoso panfleto de 1849 — e quase saí no tapa com um capitão reformado do exército, caído entre nós de pára-quedas, que defendia a nova ordem de coisas e declarava estar sentindo cheiro de enxofre no que eu dizia. (A juventude é mesmo uma dádiva: achei o máximo, na ocasião, cheirar a enxofre para essa gente. Hoje, segundo Hugo Chávez, quem cheira a enxofre é o Bush, e é uma droga.) Mas o tal capitão, que não era de briga nem mal-intencionado, acabou se mandando, e eu parti para a imensa fila de minha seção eleitoral, sem um pingo de orgulho republicano.

Mas votei. Votei com raiva. Votei em Mao Tsé-tung, em Fidel Castro, em Darcy Ribeiro, e, para contextualizar filosoficamente minha atitude, no cínico pinguço Diógenes, leitura de dois ou três dias antes. Não me lembro se vigorava a lei seca na época, mas saí dali para mais biritas no bar do Augusto, sentindo-me bem comigo mesmo, sem remorsos.

Hoje este pobre anarquista mitigado não quer anular o seu voto, nem vai fazer isso, mas a grande verdade é que os nossos maus lidadores da res pública estão fazendo uma força danada para acordar o velho garoto das ilusões perdidas.

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