Cheguei à casa de Patesko já quase ao meio-dia, e apreensivo para meu primeiro contato com uma lenda viva da cidade de Campos, de quem tanto ouvi falar, principalmente sobre sua ida para a Segunda Guerra Mundial, e também sobre a prova ciclística do São Salvador, criação do próprio, no ano de 1944. Como não sabia bem o número da casa, cheguei à rua e perguntei a um rapaz que lavava um carro se sabia onde o ex-pracinha morava, e tive rapidamente a resposta: "claro, é o ex-combatente de guerra?! É logo ali na frente, numa casa com o portão vermelho e gradil".

Parei no portão e encontrei a porta aberta, mas com o gradil fechado, e antes de chamar por Patesko, percebi que ali pairava, ainda, uma nuvem de quem viu os horrores da guerra de perto. Quadros com homenagens aos pracinhas decoravam a parede perto da porta, e junto a eles, mais homenagens para o principal desportista da cidade. Livros de guerra estavam espalhados pelo chão e em cima dos móveis.

Chamei por "Seu Patesko" inúmeras vezes e não fui atendido. Mas ouvia sons vindos de dentro da casa, e como havia perguntado antes ao rapaz que me indicou a casa, sabia que ele morava sozinho, chegando à conclusão de que ele estava em casa. Percebendo que não tinha conseguido êxito na minha empreitada, o rapaz veio em meu socorro e também gritou: "Ex-combatente de guerra!!", e logo um "oi" veio lá de dentro. O rapaz, que mais uma vez me ajudou, ainda me advertiu de que "tem que falar alto para ele atender".

Esperei mais uns minutos até me ver de frente com Patesko. Andando com dificuldade, veio com uma caixa de remédios na mão, que logo caiu no chão, e antes de falar comigo atendeu ao telefone que tocou. Pude escutar muito pouco da conversa, já que falava baixo, e algo sobre café e comida foi o que pude escutar. Mais alguns instantes à sua espera, comprovei o que haviam me dito antes sobre as roupas que Gerardo Maria Ferraiouli vestia. Perto de fazer 91 anos, comemorados no dia 7 de dezembro, e nascido em São Fidélis, cidade próxima a Campos, Patesko vestia uma camisa preta, sempre de luto pelos mortos na guerra, que permanece como uma lembrança e uma homenagem pelos tempos difíceis.

Identifiquei-me e disse que gostaria de conversar um pouco com ele sobre a prova ciclística de São Salvador. Sem me responder, abaixou-se, com enorme dificuldade, para pegar o remédio que ainda estava ao chão. Senti-me constrangido por estar ali, na presença de alguém que tanto povoou minha imaginação, numa situação daquelas. Esperei mais uma vez, e depois que conseguiu pegar a caixa, olhou para mim, afirmando que estava muito adoentado e que havia se levantado da cama naquele momento. Ainda esbocei outra tentativa e perguntei quando poderia conversar com ele, mas logo se virou e retornou ao interior da casa. Então, percebi que Patesko precisava descansar e acabei desistindo.

Prova Ciclística de São Salvador acontece todo ano, no dia 6 de agosto, em comemoração pelo dia do padroeiro da cidade, e chega em 2006 à sua 62ª edição. Nos últimos anos, a presença do criador da competição não tem sido mais desfrutada pelo público, devido aos problemas de saúde de Patesko. Mas não faltam homenagens ao ex-combatente, que encontrou em Marcos Calil o parceiro que precisava para levar adiante a organização de umas das maiores provas de rua do país na modalidade.

Nota do Editor: José Geraldo Azevedo é estudante do 7º período de Comunicação Social-Jornalismo na Faculdade de Comunicação de Campos, Estado do Rio.