Hoje eu li uma manchete, somente ela (odeio jornais), que o Governo inglês tem planos para privatizar a Amazônia. E me lembrei de um amante inglês. E a isto me ocorrem duas preocupações. Que pensam as pessoas quando lêem essas duas frases? Quantos preconceitos as abatem e tornam inaudível o que é lido. Primeiro, a doce palavra amante remetem-nas à vívida situação de Verona, ou a displicência com que falo isso? Têm o preconceito do povo plebeu ou burguês, ou têm a consideração dos livros de gabinetes? Ter um amante inglês só é permitido se você não se aventurar. Deixa-se existir e não se pensa muito nisto, mas trava-se um contato sincero e duradouro. Que é como um intercâmbio cultural. Amar, deve-se amar um compatrício. Nossas almas têm pátria... e por favor não duvidem, seria um prejuízo de vazias especulações do Ser, do Eu. Lembrei-me dessa passagem de minha vida para tentar-lhes explicar como vejo as coisas. Vejo-as sem preconceber nada. Junto coisas como retalhos que me hão de cobrir. Assim prossigo: O inglês acreditava que tudo era muito normal, em terem seus conterrâneos ampliado seu território, fazendo e mantendo suas colônias. E realmente crê num Reino Unido. Apliquemos isso ao caso Amazônia, que notem bem, não é a Escócia: temos uma terra estuprada por nossos próprios brasileiros que, como os ingleses, acham muito natural expandir seus territórios e patrimônios. Ao menos roubam em seus próprios lares. E assim como não há mérito nisto, certamente, há menos nos que ampliam suas cercas em Impérios. Não sou xenófoba, mas não gosto de ladrões, saqueadores, bárbaros que trocaram Shakeaspeare por George Soros e música por som. Quero que nossas melhores inteligências tenham planos para a Amazônia. Evidentemente falo de planos modestos, porque um dia a Terra vai mesmo parar. Mas não, nossos políticos digladiam-se por osso e os bretões pensam em ouro. São como menininhas pobres de veraneio entregando-se aos gringos para sexo mal pago. Não têm um amante inglês. Deixam-se estuprar por marinheiros que aportam e lhes levam sua dignidade a preço de galinha. Nasceram para o uso, como colônias que são, sem língua, sem tradição, sem fé, primitivas. Eternas Iracemas doudas. E o contato sincero e duradouro passa a ser contrato draconiano e irreversível. Cousas de raparigas. É assim, que as vejo. Nota do Editor: Mariella Augusta é bacharel em Direito, mestranda da FFLCH (USP), escritora, autora de "O Fio de Cloto", livro de contos prefaciado por Bruno Fregni Basseto, grande filólogo e vencedor do Prêmio Jabuti. Publicou crônicas no "Jornal das Artes" e artigos em várias revistas acadêmicas.
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