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Opinião
08/10/2006 - 11h30
Derrubando a torre de marfim
Evelyn Berg Ioschpe - Pauta Social
 
Universidades são um caminho para a educação

Vivemos em um país que é a décima quinta economia do planeta, mas cuja população não sabe ler ou fazer contas como a média dos países civilizados: no teste PISA 2000, que mede a proficiência em Leitura e Matemática e Leitura em 32 países, ficamos no último lugar em Matemática e entre os últimos em Leitura. Quando se fala que temos uma das piores distribuições de renda do mundo (oitavo país no índice de Gini) deixamos de dizer o que é mais grave: temos também uma terrível distribuição de conhecimento – o que aponta para um agravamento ainda maior deste apartheid social. Sabemos hoje que pequenas diferenças educacionais são transformadas em enormes diferenças de renda.

A desigualdade de origem é reproduzida pelo sistema educacional e ampliada pelo mercado de trabalho altamente tecnológico. A escola brasileira é ruim, não forma e não retém o estudante – e nem precisamos de dados estatísticos para referendar esta noção que já introjetamos. Não obstante, o dinheiro público que vai para educação é abundante, garantido hoje por norma constitucional. Portanto, como nação, estamos tirando recursos suficientes de nosso bolso com direito a viver num país educado. Frente aos investimentos feitos, poderíamos ter a expectativa de viver num país com proficiência pelo menos regular.

Quando se fala em recursos para educação, no entanto, é preciso discriminar. Basta um dado para nos dar a dimensão das diferenças: enquanto o gasto público federal médio por aluno com educação em 1999 era de 691 reais no Ensino Fundamental, o número para o Ensino Superior era nada menos que 9.756, ou seja, bem mais que 14 vezes mais. O que está errado? Investimos em educação como boa parte dos países civilizados e não conseguimos os mesmos resultados. Isso significa que amanhã ou depois nossos jovens estarão em situação bastante desfavorável para competir nos mercados globais e nossa economia, cuja performance tem a ver com nossa potência, perderá, igualmente, competitividade.

Quem – como – onde está a possibilidade de nos reequilibrarmos e nos situarmos no lugar que merecemos no concerto das nações? A universidade brasileira, cuja presença é competitiva no mundo, tem a virtualidade desta transformação. Formando mestres e doutores, tendo uma produção científica compatível com o ambiente internacional – a universidade se singulariza como o “lócus” do saber, o ambiente capaz de transmitir o conhecimento de que a sociedade carece. No entanto, ouve-se muito a expressão “torre de marfim” quando o assunto é a universidade brasileira. As críticas dão conta de um saber encerrado em si mesmo, numa estrutura em que a circulação do conhecimento se fecha no próprio nascedouro.

O grande desafio que o Brasil enfrenta hoje é fazer com que este saber entenda a si próprio como socialmente responsável e se distribua entre todas as camadas da população, dando sentido aos investimentos que são feitos para sua geração. A universidade reivindica melhores condições de ensino e pesquisa – enquanto a sociedade precisa de melhores condições para a ampla distribuição do que já foi gerado. Conforme relatado no volume 3 da Coleção Extensão Universitária “Avaliação Nacional da Extensão”, publicação do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, o 1º Encontro Nacional do Fórum explica que a Extensão é concebida como “um processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade”.

É este Fórum que vem trazendo um pensamento novo e transformador a respeito do que a universidade pode e deve significar para a sociedade. A publicação ressalta ainda que “a relação entre ensino e extensão supõe transformações no processo pedagógico, pois professores e alunos constituem-se como sujeitos do ato de ensinar e aprender, levando à socialização do saber acadêmico”. É a esta transformação que a sociedade brasileira aspira – e tem direito. Se o ensino fundamental é ruim e não prepara os cidadãos para a vida, é da universidade que devem soprar os ventos da atualização capazes de reverter este quadro.

Esta foi a aposta do programa Arte na Escola, gerado numa instituição do Terceiro Setor, a Fundação Iochpe, há exatos dezesseis anos. Entendemos que poderíamos articular estas duas pontas através de um programa de educação continuada e escolhemos a área de artes para nosso investimento social. Nestes anos todos, vimos articulando parcerias: hoje a Rede Arte na Escola é composta por 55 Pólos instalados em universidades (majoritariamente públicas) em todas as regiões do Brasil, nas quais foi estabelecido um relacionamento com o ensino fundamental buscando gerar maior qualidade.

São parcerias que as universidades estabelecem com as secretarias de educação para capacitar seus professores. Para gerir esta operação, foi criado o Instituto Arte na Escola, que hoje edita materiais de apoio ao ensino e coordena esta rede, utilizando ferramentas de comunicação e premiando professores para estimular as melhores práticas identificadas. Neste ano teremos a sétima edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã.

Apostamos nesta socialização do saber acadêmico de que fala o Fórum de Pró-Reitores de Extensão como a perspectiva mais alvissareira para gerar as mudanças que o país está a exigir. Ninguém mais se conforma em ser o tal gigante adormecido do hino pátrio: uma geração de pessoas bem formadas que trabalham no Brasil moderno tem o direito de esperar por esta mudança social. E é de dentro das universidades que ela poderá desabrochar.


Nota do Editor: Evelyn Berg Ioschpe é Diretora do Instituto Arte na Escola.

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