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Opinião
08/10/2006 - 13h24
Quem explora quem?
João Luiz Mauad - MSM
 

Já faz algum tempo, a esquerda norte-americana declarou guerra ao Wal-Mart, gigante mundial do setor varejista, cuja principal característica é oferecer produtos a preços excepcionalmente baixos, uma estratégia, digamos, coerente com a ortodoxia capitalista que transforma o consumidor, especialmente o de baixa renda, no principal beneficiário.

A acusação mais freqüente contra esse "maldito" conglomerado, que insiste em vender mais barato que a concorrência, é de que ele paga salários muito baixos aos seus empregados. A ladainha é a mesma de sempre: o capitalista ganancioso explora o trabalhador indefeso, pagando-lhe salários "injustos" (entre aspas pois o conceito de justiça para os ungidos é muito diferente do nosso).

O que os defensores dos fracos e oprimidos não dizem é que o Wal-Mart costuma empregar gente muito jovem, notadamente sem experiência profissional anterior, ou idosos, que trabalham para complementar a aposentadoria (mas isso é totalmente irrelevante, claro!). Em seus longos discursos, repletos de velhos chavões, esquecem (convenientemente) o fato incontestável de que esses indivíduos, caso não estivessem trabalhando para o WM, estariam provavelmente engordando os índices de desemprego. (É importante salientar que, num país como os EUA, ninguém tem poderes para obrigar quem quer que seja a trabalhar para si. Os contratos são atos voluntários entre as partes e, portanto, se existe gente interessada em vender seus serviços a um patrão ganancioso e malvado, é porque as alternativas certamente são piores. Ou alguém acha que os "pobres coitados" que trabalham no Wal-Mart sofrem de alguma espécie de masoquismo atávico?).

Como administrador, parece a mim um tanto óbvio também (e peço que os estimados leitores corrijam-me se eu estiver errado) que se o WM pode se dar ao luxo de contratar gente sem experiência anterior, ou idosos sem plenas condições físicas, é porque desenvolveu técnicas de gerenciamento e práticas organizacionais que lhe permitiram tal extravagância. Porém, estes não são exatamente os pontos que pretendo discutir aqui. O meu intuito hoje é analisar o famigerado argumento da exploração do trabalhador pelo bicho-papão capitalista, que deu origem à não menos famosa e estapafúrdia teoria da luta de classes, sofisma marxista subjacente à maioria das críticas esquerdistas ao capitalismo.

Há, na teoria econômica, um princípio básico chamado "lei da utilidade marginal decrescente". De acordo com esse princípio, "cada unidade extra de um determinado bem proporciona menor benefício subjetivo que a unidade anterior". Assim, mesmo que um produto seja muito atraente e desejado, a utilidade (ou satisfação) proporcionada pela aquisição de cada item suplementar será sempre decrescente. Por exemplo: um iPod - o equipamento da moda - está custando no mercado americano +/- 250 dólares. Este é um preço que a maioria das pessoas está disposta a pagar, até porque as vendas não param de crescer. Suponha que um comerciante lhe oferecesse duas unidades por $450. Você talvez considerasse a proposta vantajosa. No entanto, o desconto teria que ser muito mais atraente para que você se interessasse por um terceiro aparelho e assim sucessivamente.

Um outro exemplo bastante didático seria imaginar uma moeda de 25 centavos perdida no meio da rua. Um indivíduo rico, andando apressadamente, dificilmente se abaixaria para apanhá-la, a menos que fosse uma espécie de Tio Patinhas. Por outro lado, um mendigo jamais a deixaria passar, pois aquela moeda representa infinitamente mais em termos de utilidade subjetiva para ele do que para qualquer outra pessoa. Do mesmo modo, uma nota de um real que você dá a uma criança num sinal (semáforo para os paulistas) representa muito mais, em termos de valoração subjetiva, para ela do que para você.

De posse dessa informação, suponha que Pedro seja um rico empreiteiro da construção civil, que cede mão-de-obra para grandes construtoras, e Raimundo um operário (pedreiro). Pedro contrata os serviços de Raimundo, pagando-lhe $1,00/m² de alvenaria, serviço este que ele irá vender à empresa XYZ por $2,00/m². Nessas condições, quem está tirando maior proveito do contrato entre ambos? Se você respondeu Pedro, acho que deveria rever seus conceitos. É verdade que Pedro continua muito mais rico, em termos absolutos, do que Raimundo, bem como está faturando mais, já que provavelmente há muitos outros raimundos trabalhando para ele. No entanto, se considerarmos a utilidade marginal subjetiva de cada unidade monetária extra que os dois obtêm em cada metro quadrado de alvenaria, o benefício de Raimundo é deveras maior.

Esta lição simples da teoria econômica é constantemente negligenciada pelos esquerdistas ao vomitar sobre nós as suas indefectíveis falácias econômicas. Malgrado a fantasia marxista da "mais valia" já tenha sido sobejamente desmentida por inúmeros economistas, a imagem apresentada ao público pelos "ungidos" continua sendo a de que as grandes corporações se beneficiam dos baixos salários pagos aos funcionários ou, em palavras mais exatas, que o capital é o grande vilão do trabalho.

O rancor provocado pelo Wal-Mart na esquerda em geral é derivado de uma certa inconformidade com o fato de que ele talvez represente o mais claro exemplo de como a concorrência capitalista pode abastecer os consumidores de forma eficiente, com abundância e preços baixos, algo que as suas utopias socialistas jamais conseguiram. Além do preconceito em relação ao livre mercado, essa turba de idiotas (liderada por meia dúzia de espertalhões) é contrária a qualquer avanço econômico ou tecnológico. No passado, espernearam contra inovações que melhoraram muito a vida do ser humano em geral, como a linha de montagem e a mecanização industrial. Hoje, combatem a robótica, os computadores e tudo quanto possa aumentar a produtividade de um trabalhador. Não é outra a razão por que, aqui no Brasil, o MST vitupera o agro-negócio e defende a volta da pá e da enxada.

A ciência econômica é, por vezes, complicada e, quase sempre, muito mal compreendida pela maioria das pessoas - muito por culpa de economistas, que fazem questão de torná-la ininteligível para os reles mortais. Os apologistas do atraso se valem dessa dificuldade cognitiva para espalhar desinformação e, de quebra, todas as falácias que lhes interessa. O êxito do Wal-Mart está diretamente relacionado aos preços baixos que pratica, os quais beneficiam milhões de consumidores, especialmente de baixa renda. Estivessem os ungidos realmente em sintonia com os seus discursos e preocupados com os mais pobres, deveriam ser os primeiros a desejar vida longa ao WM. O sucesso dele, no entanto, representa um grande perigo para todos aqueles que ainda insistem em enxergar o capitalismo como algo nocivo.


Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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