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Crônicas
09/10/2006 - 07h52
O peso dos restaurantes por quilo
Rosana Hermann
 

Por excesso de trabalho, falta de dinheiro e fome na hora do almoço, a gente acaba sendo obrigado a comer nos famigerados restaurantes por quilo. É deprimente, dá vontade de chorar aos litros. Mas quando a pessoa está dura (o que significa mais da metade da população, durante quase todo o mês), não resta outra alternativa. Ou vai no quilo, ou vai comer no hot dog no fundo da Kombi pingando catchup no tênis. Ninguém merece.

O quilo sempre tem fila, todo mundo com cara de escritório e cor de carpete, cinza ou bege, sempre cores neutras, que não pegam sujeira. É aquele bando de gente esfomeada, com mão no bolso, gravata em cima do ombro, cinto com buraco feito à tesouradas e celular pendurado na cintura.

Depois de meia hora em pé, torcendo pra turma da mesa quatro pedir a conta e ir embora, você finalmente chega até os pratos. Lógico, o seu prato estará molhado e com aquela cara de quem acabou de quem foi comido e não gostou. Mas, como o vazio na barriga é grande e a espera foi longa, você pega o prato molhado e segue em frente, torcendo para que sua salada não se afogue.

O destino tenta alertar você quanto à qualidade do buffet mas além da paixão, também a fome é cega e lá vai você catar bolinha de manteiga em banho de gelo pra acompanhar as fatias torradas do pãozinho de anteontem.

Por alguma razão que pesquisas americanas não explicam e a ciência não estuda, todo restaurante por quilo adora servir muito, muito tomate fatiado, alface molhado e cenoura cozida, de preferência com salsinha. Depois, vem alguma coisa que ninguém come, como rabanetes ralados, nabos estuprados ou combinações improváveis como quiabo-com-beterraba ou milho com abobrinha. Eles ficam lá só para fazer número e manter os pratos cheios. Você sabe, a gente também come com os olhos.

Para dar um ar mais sofisticado pra essa gororoba vegetariana, você acaba cruzando com alguma salada que tenha frutas no meio. E aí, dá-lhe abacaxi com repolho e brócoli com uva-passa.

Assim que você vence a etapa das folhas e legumes começa a parte que realmente pesa. E engorda. Farofa, farinha, pirão, arroz, batata, cal, massa corrida, eternit. E, claro, pra cimentar bem a pança, feijão, tutu, caldinho, que é pra dar a ’liga’.

A essas alturas seu prato já parece briga em final de feira, mas você vai firme para as partes que interessam: as carnes e os pratos quentes. Aí começam as dúvidas religiosas: lasanha de deus-me-livre, peixe com sabe-se-deus-o-que ou bife a role recheado de Jesus me chama? O negócio é fazer um sinal da cruz, bater na madeira e ir pra balança, independente do seu cruz-credo.

Na balança, sempre tem uma tia triste, com cara de saco cheio, que pesa seu prato e entrega uma comanda sem tirar os olhos das palavras cruzadas. E é assim, com um prato na mão e um peso na cabeça, que você vai heroicamente em busca de uma mesa, onde você possa, finalmente, sentar-se sobre todos os seus quilos que, pelo menos, não pesarão no bolso. Só no carnê da vida, aquele, que a gente quita em cerca de oitenta anos de prestação.

E até a próxima refeição.


Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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