Pessoas há que não se conformam com as novas descobertas da ciência, principalmente quando estas afetam suas mais caras e preciosas crenças. [Uma antiga paixão a gente jamais esquece...]. E é por ter dificuldades afetivas e outras que, bastante tempo após Copérnico ter mostrado que a Terra girava em torno do Sol, ainda tinha muita gente boa que não aceitava tal coisa. Pasmante!

Recentemente a UAI (que não é mineira, mas sim a União Astronômica Internacional) tomou a decisão de rebaixar Plutão de coronel a tenente, perdão: de planeta a asteróide. Mas só tomou essa decisão, após uma reunião em Praga (República Tcheca, que separou da banda podre: Eslováquia) em que se formou um consenso entre 2.500 astrônomos, que reafirmarem a validade dessa recente descoberta. O planeta mais perto do Sol continua sendo Mercúrio, porém o mais distante agora é Netuno, queiram ou não, "duela a quién duela!"

No entanto, tem gente muito boa que se recusa a aceitar essa capitis diminutio, i.e. perda de status de prestígio de Plutão, assim como algumas pessoas se recusaram veementemente a aceitar a cassação do mandato, minto: a descanonização de São Jorge, São Cristóvão, usw. feita pelo papa Paulo VI. Em países como o Brasil - em que o nível intelectual do povo é muito elevado e a Astronomia uma ciência intensamente estudada - nos começos de setembro de 2006, um grupo de viventes indignados resolveu fazer uma passeata de protesto, perdão: resolveu fundar a SAP (Sociedade dos Amigos de Plutão) na Ilha da Fantasia, também conhecida como Brasília.

De acordo com o jornalista Carlos Chagas (em Em Dia, 2/9/2006), a referida sociedade está registrada na Esplanada dos Ministérios, sem indicação de qual ministério. O presidente da nova ONG é um ex-líder sindical filiado a CUT e amigo íntimo de Vossa Excelência o Presidente Luiz Inácio da Silva, autocognominado Lullinha Paz e Amor, por sugestão de Duda Mendonça. O Diário Oficial publicou a liberação de 7,5 milhões de reais para financiar as primeiras atividades dessa importantíssima ONG em prol da ciência, quantia essa, é verdade, inferior aos 10 milhões de dólares gastos pelo governo federal nos importantíssimos experimentos científicos com grãos de feijão no espaço feitos pelo primeiro astronauta brasileiro. E isto é apenas o começo: a entrada do Brasil na Era Espacial e a conquista do espaço sideral. Darth Vader que se cuide!

A referida ONG tem como finalidade precípua conscientizar a população do perigo que representa esse rebaixamento de Platão, perdão: Plutão: uma insidiosa manobra para futura exclusão do Sistema Solar de nosso querido planeta Terra. Devemos dar todo apoio à missão dessa ONG, porque todas as exclusões são odiosas, a não ser quando alguém é excluído do listão do SPC ou dos braços da Juliana Paes. Ah! Juliana, Juliana... (prolongados e ofegantes suspiros ao entardecer). Já estão previstas a celebração de acordos com a Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Correios. Já era esperada tal coisa, uma vez que essas estatais sempre colaboraram com projetos de grande cunho social e não podiam se furtar a oferecer apoio financeiro e, sobretudo, apoio moral a essa missão altamente pedagógica, de transcendental envergadura, além de nobilíssimo escopo.

Como a SAP tem um alcance internacional, seus principais membros têm que estar constantemente viajando a muitos países e fazendo diversos contatos. Em vista disso, já foi prevista a retirada de uma pequena quantia para cobrir despesas de viagem, a saber: R$ 20.000,00. Mas somente para o pequeno número de 800 membros da direção constituída de espíritos abnegados e inteiramente devotados ao trabalho em prol de nobres causas. Discursando no senado, Heráclito Fortes (PFL-PI) - líder de seu partido na mencionada Casa - disse coisas totalmente descabidas a respeito da SAP (em O Estado de São Paulo, 11/10/2006).

Entre outras coisas cascudas, disse que Sociedade dos Amigos de Plutão é um nome fictício que a oposição tem usado para se referir a outra ONG de Santa Catarina que tem entre seus membros a filha do Presidente do Brasil, Lurian, e Jorge Lorenzetti - que não é o fabricante do famoso chuveiro elétrico do mesmo nome - mas sim o churrasqueiro oficial da Granja do Torto e renomado Jack-of-all-trades, i.e. pau-pra-toda-obra, faz-tudo. E a coisa se tornou mais descabida ainda quando - num momento bastante acalorado de seu discurso - Heráclito acusou Parmênides, minto: acusou a Senadora Ideli Salvatti (PT-SC) de ter acobertado delitos cometidos pela referida ONG em seu estado (SC). E enquanto Ideli, de olhos esbugalhados, babava de raiva, Heráclito, dirigia-se à senadora dizendo:

“V. Exa. me deu a oportunidade de explicar quem são os Amigos de Plutão. Os Amigos de Plutão moram em Blumenau (SC) e a ONG é a do Lorenzetti, a ONG é da senhora Lurian.”

Como vemos, primeiro foi o filho e depois a filha de Lulla metidos em enrascadas, mas eles são maiores de idade, vacinados e totalmente responsáveis por seus atos. Não obstante, é muito triste - consternador mesmo! - ver um homem honesto, trabalhador, probo e patriota ficar seriamente exposto à execração pública por causa de coisas feitas por seus imprevidentes filhos. Assim ocorre com muitos pais brasileiros: quem sabe menos das coisas sabe muito mais que eles - eles, que são sempre os últimos a saber! E mesmo assim só quando, pela manhã, abrem o jornal enquanto estão a defecar...

APÊNDICE I: DILEMMA BRASILIANI

Se, no distante 2002, por acaso o amigo votou em Lullinha Paz e Amor - um poderoso mito fabricado pelo marqueteiro Duda Mendonça - é bastante compreensível, pois errar é humano e todo mundo merece uma segunda chance. Mas se o amigo pretende votar em Lulla de novo... Bem, errar é humano, mas repetir o mesmo erro é burrice ou então - coisa muito pior - sem-vergonhice!

Explico-me: se depois de tantos escândalos de corrupção grossa e do país só estar crescendo mais do que o Haiti - entre outras inenarráveis calamidades - o amigo quer Lulla de novo, então não me deixa uma terceira alternativa: ou o amigo é um grande mentecapto ou então já tem sua fatia de pizza garantida (Tertium non datur).

Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).