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SEÇÃO
Crônicas
27/10/2006 - 12h22
Meu caro Luciano Huck
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

Estou por meio desta pedindo, encarecidamente, que você retire do ar um quadro do programa "Caldeirão do Huck", veiculado todas as tardes de sábado pela TV Globo. Trata-se daquele quadro em que você presenteia algumas famílias com a reforma de suas casas. Se não me engano, ele se chama "Lar Doce Lar", o que não deixa de ser irônico porque, desde que esse programa foi ao ar, minha vida em casa se tornou um verdadeiro inferno. Os meus fins-de-semana, que há poucos meses se resumiam a pequenas sonecas descompromissadas no sofá da sala, e aos quais eu me dedicava no máximo à leitura de um livro ou a ouvir alguns CD’s antigos, agora se transformaram num pesadelo familiar.

Veja bem. Eu não sou nenhum marido exemplar, mas também não sou dos piores. Me arrisco na cozinha. Lavo louças quando necessário. Não costumo deixar as coisas espalhadas pela casa. E tento nunca me esquecer de dar um beijo na minha mulher sempre que chego ou saio de casa. Como pai, também não tenho ouvido muitas queixas, afora aquelas que todas as filhas imprecam aos pais quando perguntamos, às seis horas da manhã, onde é que elas estavam até aquela hora. No mais, sou carinhoso até onde consigo ser, e nós três, minha mulher, minha filha e eu, até somos considerados pelos amigos como exemplos de uma família bem resolvida.

É claro que tudo isso até você lançar esse maldito quadro no seu programa. Desde então, minha mulher enlouqueceu. Ela vive andando pela casa, com papéis rabiscados de retângulos sobrepostos, que ela diz ser a planta de nossa casa, tudo desenhado a lápis e depois reforçado com caneta bic. E isso sem contar a régua. Como nós não temos uma trena, minha mulher passou a medir todos os cômodos da casa com uma régua de trinta centímetros. Depois ela se senta e começa a multiplicar trinta centímetros pelo número de réguas que tem nosso quintal, ou nossa garagem. E todas essas contas ela faz em cima dos tais retângulos já citados, tornando toda aquela papelada absolutamente ilegível até para um estudioso de hieróglifos egípcios. Eu tento não interferir, mas não tem jeito, porque toda hora ela vem me perguntar onde é que eu gostaria que ficasse meu escritório, ou onde é que nós vamos colocar nossos livros.

Quando eu tento explicar que nós não temos dinheiro para uma reforma, que nesse país um pobre escritor do interior como eu mal e mal consegue comer carne todo dia, ela sorri um sorriso esquisito, olha para a TV e diz que "dinheiro não é problema".

Bem, antes que eu precise tomar uma medida drástica tal como internar minha mulher numa clínica de recuperação, ou então que eu resolva mudar de profissão e finalmente desista desse negócio de escritor e me transforme num advogado ou num médico, eu espero que você atenda ao meu pedido e que retire o tal do "Lar Doce Lar" da programação.

Muito grato pela atenção.

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