Avanço da cidadania empresarial: 3º Setor já representa 5% do PIB
Apesar de recentes estudos do Banco Mundial e da Fundação Getúlio Vargas demonstrarem ter havido redução da miséria no Brasil, o quadro social continua grave. Segundo o mais recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a estratificação econômica no País é uma das mais acentuadas do mundo. A renda per capita dos 10% mais ricos é 32 vezes maior do que a dos 40% mais pobres. Os números explicam, em boa medida, o porquê de figurarmos em 63º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), cujos indicadores consideram a longevidade média da população, assistência médica, ensino, renda e qualidade de vida. As carências brasileiras são evidenciadas por outros preocupantes números: 11,4% da população acima de 15 anos são analfabetos, enquanto o analfabetismo funcional atinge 30%. Apenas 40 milhões de pessoas têm acesso à medicina privada e cerca de 150 milhões dependem da precária assistência da rede pública. Ou seja, no binômio "saúde/educação", essencial ao desenvolvimento, o Brasil apresenta situação frágil. Fica claro que o Estado não tem conseguido atender adequadamente a sociedade em áreas de seu precípuo dever constitucional, embora arrecade, em impostos e taxas, mais de 37% de tudo o que produzem empresas e trabalhadores. Embora já enfrente no Brasil um dos mais onerosos sistemas tributários do Planeta, a iniciativa privada não se tem omitido perante o quadro social. Ao contrário, participa cada vez mais das ações de voluntariado e responsabilidade social, atuando no escopo do que é público. É o que demonstra estudo inédito, recém-divulgado, do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV) em parceria com o Johns Hopkins Center for Civil Society Studies: o setor sem fins lucrativos no Brasil já representa 5% do PIB nacional, tendo crescido 71% entre 1995 e 2002. Pesquisa anterior do Johns Hopkins, realizada em 1995, demonstrava que o Terceiro Setor havia movimentado, naquele ano, R$ 10,6 bilhões, o equivalente a 1,5% do PIB brasileiro. No novo relatório, a instituição norte-americana que estuda as organizações sem fins lucrativos indica que esse índice de participação praticamente quadruplicou, tornando-se superior ao de setores muito fortes da economia nacional, como extração mineral, que inclui petróleo, minério de ferro, gás natural e carvão. Além disto, o PIB do Terceiro Setor é maior do que o de 22 Estados brasileiros, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. Como se observa, a consciência social do voluntariado, empresas, institutos e fundações abre perspectivas de que o Brasil possa prover melhor qualidade de vida à população. Há, ainda, é verdade, certo ceticismo sobre o funcionamento e alcance, em termos de resultados, do trabalho realizado por essas instituições. Assim, é importante que exemplos bem-sucedidos sejam disseminados e se tornem acessíveis à opinião pública, evidenciando o significado do engajamento da sociedade e empresas. A atuação da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) exemplifica o significado do Terceiro Setor. A entidade realiza cinco mil atendimentos/dia, em suas sete unidades (três em São Paulo e uma nas cidades de Uberlândia, Recife, Porto Alegre e Nova Iguaçu). Noventa e seis por cento são gratuitos, contribuindo para que contingente expressivo dos portadores de deficiências físicas brasileiros tenha acesso à reabilitação, tratamento, escolaridade, melhoria das condições de mobilidade e inclusão no mercado de trabalho. Não só na saúde, como no ensino, cultura, esportes/lazer e profissionalização, há imenso espaço para que empresas de todos os setores invistam no social, por meio de programas próprios ou em apoio a projetos de ong´s, contribuindo para que o País seja melhor. Nota do Editor: Eduardo de Almeida Carneiro é empresário e presidente voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
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