Guardadas as devidas proporções aconselhadas pela modéstia, creio ter descoberto uma lei semelhante à de Malthus. Como todo o mundo sabe e ninguém ignora, a referida lei é: A população cresce numa progressão geométrica enquanto a produção de alimentos cresce numa progressão aritmética. Como até agora todo o mundo, sem uma única exceção, ignorava, a lei de Marius é: A tecnologia progride numa progressão aritmética, mas o bom gosto regride numa regressão geométrica. De um modo mais simples e direto: Quanto mais avança a tecnologia, maior é a generalizada breguice. Se não, vejamos: do disco de vinil ao CD e da fita cinematográfica ao DVD, a tecnologia teve um avanço fantástico! No entanto, nem tudo que estava gravado em vinil e película cinematográfica foi regravado em CD e DVD. Muitas preciosas obras primas foram relegadas ao esquecimento e uma montanha de bobagens recebeu embalagens de alta técnica. Na música e no cinema, a vulgaridade e o mau gosto, sob as formas de DVD e CD, campeiam fogosamente por todo o orbe. E se continuar nesse ritmo, brevemente teremos uma assustadora quantidade de porcarias impecavelmente reproduzidas, mas nenhuma coisa que preste produzida. Noutro dia mesmo, vi uma comprovação disso que acabei de afirmar acima. Na banca do jornaleiro havia os seguintes gêneros de música em CD: Funk e Rap a R$ 30,00 a unidade, música erudita - que o vulgo insiste em chamar de música "clássica"- a R$ 3,00 a unidade. O que é 10 vezes melhor custando 10 vezes mais barato?! Antes de você ser acometido de uma dissonância cognitiva, dou uma boa explicação para o fato: o funk e o rap vendem milhões de CDs, mas Bach, Beethoven e Brahms encalham, porque muito pouca gente quer ouvi-los. Aliás, a maioria nem sabe quem são tais figurinhas difíceis. Nunca ouviu nem ouviu falar. Mas como tudo neste mundo, isso tem seus aspectos negativos e positivos. O negativo é o profundo desprezo de nossa época por tudo quanto é verdadeiro, belo e bom. O positivo é que melômanos irrecuperáveis como este autor podem adquirir obras de grande valor por um preço de pequeno. Não obstante, sinto-me como um estranho no ninho, em completo desacordo com o espírito da época, um sobrevivente d’outra época entre viventes desta. Que fazer? Fazer de conta, para não ensandecer. APÊNDICE I: QUEM DISSE QUE NADA MUDOU NO BRASIL? "Vendem-se, por ótimos preços, escravos provenientes do norte do império. Entre as opções que são apresentadas ao respeitável público estão alfaiates, moleques das cores preta e parda, para trabalharem como pajens, perfeitas costureiras e boas lavadeiras e quitandeiras. Também há algumas pretas de Minas para se vender. Tudo isso pode ser encontrado na Rua do Hospício, número 24, no sobrado que ali existe" (Jornal do Commercio, 19 de Setembro de 1856). Isto foi na Era do Império, mas na Era Republicana, as coisas são diferentes! Recente pesquisa feita por uma ONG e voltada para a defesa dos direitos humanos mostrou que cerca de 30.000 pessoas - incluindo até mulheres e crianças! - vivem em regime de trabalho escravo, sendo que a maior parte se encontra no Estado do Pará. Se é assim, então, em 150 anos, nada mudou? Mudou sim! Antigamente senhores brancos só escravizavam negros, hoje escravizam negros & brancos & índios & cafuzos & mamelucos & mulatos & caboclos, usw. APÊNDICE II: DEFINIÇÃO DE PÓS-MODERNO Muitas há, porém a melhor de todas as definições de pós-moderno é a que foi dada pelo embaixador J. O. de Meira Penna, que embora tenha pertencido aos quadros do Itamaraty, nunca foi comunista nem simpatizante do comunismo. Pós-moderno=df. Após a queda do muro de Berlim (1989) e a dissolução do Império do Mal de Darth Vader (1991), as esquerdas ficaram totalmente sem assunto... Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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