Quem nunca brincou de embaralhar palavras na infância? Pois é, e alguma vez na vida você deve ter ouvido a frase "socorram-me, subi no ônibus em Marrocos", e logo em seguida lhe explicaram que este fenômeno é chamado de palíndromo. Pra quem não se lembra, esse é o nome dado a uma palavra, frase, número ou qualquer outra seqüência que pode ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita. A palavra "palíndromo" vem das palavras gregas palin (trás) e dromos (corrida). Agora vamos deixar um pouco a aula de português e filosofia de lado e analisar o título acima. E agora, em época de eleição, os candidatos a governador trazem em suas plataformas a proposta do bilhete único. Mas não quero me alongar em assuntos políticos. Como são caras as passagens de ônibus nas cidades brasileiras. Você duvida? Lembro-me que em 1994, quando surgiu o plano real, a passagem custava 0,35 centavos. E agora, doze anos depois, vemos que a inflação agiu durante esse tempo todo. No Rio, custa entre 1,90 e 2,30. Em Porto Alegre, cerca de 1,80. Brasília tem uma das mais caras. Lá custa 2,75, e em São Paulo 2,30. São caras em relação ao salário mínimo no país, que diga-se de passagem, é vergonhoso. Os donos das empresas parecem se esquecer de que quem pega ônibus todos os dias, vai e volta, ou seja, tem de gastar o dobro desse valor. Tem gente (como eu) que pega até 3 ou 4 conduções diariamente. Outros precisam vir de cidades periféricas, e pagam tarifas (e pedágios) ainda mais caras. E o pior de tudo é que os preços sofrem reajustes anuais, sempre para cima. Às vezes, inclusive, tentam impedir esse aumento, mas só por pouco tempo. Bom, e o motivo para a subida dos preços das passagens é aquele "blablablá" de sempre. A alta dos combustíveis, manutenção dos ônibus, investimentos em segurança. Por falar em segurança, os trocadores em Belo Horizonte recebem instruções dos próprios donos da empresa para que saiam do ônibus, durante a viagem, e depositem o dinheiro no banco, caso estejam em mãos com uma quantia alta. Coisas como as citadas acima só acontecem na hora de nos enganar, por que na prática mesmo não funciona assim. E que alternativa nos resta? Alguns preferem o metrô (sem sombra de dúvidas o mais indicado), outros que se arriscam a pé (conheço gente "maluca" que anda da Gávea ao Centro), há os ônibus a leito (frescão, que estão agora sendo vítimas freqüentes de assaltos, com média de 1 por dia), ou as vans. Estas, agora tentam fazer concorrência, pois colocam os preços das passagens igual a dos ônibus. As vans, apesar de clandestinas e com pouca segurança, são uma opção para desempregados conseguirem algum troco no fim do mês. Essas cooperativas de vans estão sempre fazendo máfias, acordos ou outros tipos de trambique com empresários que são donos de linhas de ônibus. É evidente que se eles quisessem, com todo o poder e aval político que possuem, já teriam acabado com esse tipo de transporte alternativo e irregular. Possa ser que até deputados estejam envolvidos por trás disso. Mas até provar que iceberg não é sorvete... Além disso, ainda não contei o trânsito caótico que fica nas ruas e avenidas das grandes cidades por causa das vans. Se somente com ônibus a situação fica horrível, com as "peruas" então... Engarrafamento é um problema crônico que atinge até cidades como Nova Iorque (e olha que lá tem metrô). Bom, o fato é que as passagens estão sempre aumentando, descompassado ao salário mínimo, a violência nos ônibus continua presente, o caos nas vias da cidade está aí, e os ônibus continuam precários, caindo aos pedaços, parecendo latas de sardinhas com rodas. Agora tenho que me retirar, pois a labuta terminou por hoje, e tenho que esperar meu ônibus passar. Mas enquanto ninguém nos socorrer, continuaremos todos os dias a "correr atrás" (literalmente), para podermos subir nos ônibus... no Brasil. Nota do Editor: Renan Oliveira é jornalista.
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