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Opinião
09/11/2006 - 16h10
Não foi Lula que ganhou, foi Alckmin que perdeu
Mario Guerreiro - Parlata
 

Logo após o primeiro turno das eleições de outubro, apesar de Lulla ter uma diferença de pouco mais de 10 pontos em relação a Alckmin, é inegável que este tinha uma vantagem de caráter psicológico em relação àquele: ninguém acreditava no "picolé de chuchu", nem mesmo membros de seu próprio partido. Contrariando tudo e a todos, Alckmin conseguiu realizar uma notável proeza, levando o favorito para o segundo turno.

Isto não significa dizer que as probabilidades de sucesso de um e de outro candidato fossem zeradas para começar tudo novamente, nem que fosse passada uma esponja no primeiro turno. Os eleitores de Alckmin - entre os quais eu me incluía, por ser ele o menos ruim - tiveram um fio de esperança. Com um bom trabalho, o candidato tucano tinha chances de ampliar o número de seus votantes, principalmente conquistando os votos dos indecisos da classe média do Triângulo das Bermudas frustrados com governo de Lulla e do PT, mas que hesitavam em dar seu voto para um candidato do mesmo partido de FHC, "o vil privatizador"!

Bastava diminuir a diferença nos colégios eleitorais de São Paulo e Minas Gerais, por sinal os dois maiores do Brasil e um domínio em que Alckmin teria melhor acolhida, já que um dos estados era seu estado natal e, como governador do mesmo, fez um excelente governo. [Poucos são os prefeitos, governadores e presidentes que terminam seu mandato com quase 70% de aprovação!]. E outro estado, Minas Gerais onde Alckmin contava com o apoio de Aécio Neves, se não o mais votado, um dos mais em toda a história das Alterosas.

Mas que aconteceu? Os que votaram em Lulla no primeiro turno - principalmente nos incontáveis grotões deste Brasilzão - continuaram sendo eleitores de Lulla, como já era esperado, e cerca de uns 10% de eleitores do Triângulo das Bermudas, de quem Alckmin tinha que angariar os votos, na realidade foram arrebanhados para votar na situação, não na oposição, como os alckmistas tinham esperança de que votassem. Resumidamente: não foi Lulla que ganhou, Alckmin é que perdeu! E perdeu por não conseguir conquistar os votos da classe média. Em parte por erros de campanha, mas em parte também pela ignorância crassa da referida classe. Os marqueteiros do PT jogaram uma isca e Alckmin a abocou avidamente, sem ter se dado conta de que seria fisgado pelo anzol.

A isca consistiu em espalhar pelos quatro cantos da Terra Brasilis o boato que, caso eleito, Alckmin privatizaria a Petrobras, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil etc. [Antes fosse verdade!]. Na estatolatria cultivada pelos apedeutas da classe média, isto equivale a um verdadeiro "entreguismo", uma verdadeira liquidação do patrimônio público vendido a "preço de banana". No entanto essa mesma classe média, que se atemorizou com a possibilidade de Alckmin vender por uma "bagatela" o patrimônio público, não deu a menor importância ao fato de Lulla ter dado valiosos presentes para países do Terceiro Mundo. Só a dívida perdoada de Moçambique foi da ordem de um bilhão de reais e as duas usinas da Petrobras na Bolívia - ameaçadas de expropriação por Evo Inmorales e não contando com uma atitude firme do Governo ante o desaforo do selvícola semi-aculturado - são cerca de 2 bilhões de reais! Quantas escolas e hospitais poderiam ser feitos com esse dinheiro!

Parece que a classe média brasileira encara com grande desdém os fatos econômicos que poderiam facilmente mostrar como estatais, a exemplo da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) foram privatizadas por necessidade, não por ideologia. A supramencionada estatal estava no vermelho quando foi saneada e depois privatizada. Hoje é superavitária e altamente lucrativa, produzindo aço da melhor qualidade e concorrendo sem medo de competir no comércio internacional. Por sua vez, a Vale do Rio Doce não era uma empresa deficitária, é verdade, mas se tornou muito mais lucrativa depois de ter sido privatizada. Será que o lucro é mero detalhe?

O assunto privatização demandaria um artigo mais longo para ser devidamente examinado, mas basta citar o sucesso das privatizações de Margaret Thatcher, que dinamizou um país economicamente estagnado. O Reino Unido prosperou de vento em popa, após o duradouro gabinete dos Tories (membros do Partido Conservador) e quando os trabalhistas (Membros do Labour Party) assumiram o Poder, Tony Blair - que mais parece Tory Blair - não reestatizou o que Maggie, The Iron Lady, havia privatizado.

Quando, sob a forte influência da referida Primeira-Ministra britânica e de Ronald Reagan, alguns países privatizaram suas companhias estatais - algumas das quais inchadas pelo empreguismo dos políticos e pessimamente administradas - assistimos tais países entrarem num ciclo de grande prosperidade. Simplesmente desconhecemos um só país que tivesse transformado suas estatais em sociedades anônimas de capital inteiramente privado e hoje não esteja em condições muito melhores do que antes. O Estado-Empresário nasceu morto, só as esquerdas se recusam a aceitar esse fato.

Contudo, por estar sempre em cima do muro, como é hábito dos tucanos, por falta de coragem ou mesmo por mau aconselhamento, Alckmin não defendeu as poucas, porém bastante oportunas privatizações feitas por FHC. Envergou a camisa da antiprivatização que os petistas queriam que ele vestisse, mordendo avidamente a isca. Se este não foi o fator principal de sua derrota, estou certo que foi um dos mais relevantes. Outro fator, bastante relevante foi a "religião laica" cultivada pela mídia, pelas universidades e pelos meios intelectuais, que consiste no endeusamento do Estado e sua inevitável contrapartida: a demonização da iniciativa privada.

Desse jeito, de um ponto de vista econômico, o Brasil tornar-se-á cada vez mais perecido com a combalida França, país em que os jovens contam com duas únicas opções: transformarem-se em funcionários públicos ou atravessarem o Canal da Mancha emigrando para a Inglaterra ou para Irlanda, o Tigre Celta. E de um ponto de vista político, o Brasil corre o sério risco de se tornar coisa ainda pior do que a Bruzundanga, com seu Presidente chegando à conclusão de que o Congresso é perfeitamente dispensável, podendo ser fechado sob o aplauso geral do povo, e pondo em prática um governo plebiscitário bastante assemelhado ao de Hugorila Chávez, que se julga a reencarnação do grande herói libertador, Simón Bolívar, cujos ossos se agitam no túmulo protestando.


Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).

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